Uma sociedade incrédula


Por Tribuna

10/08/2017 às 07h00

Por Tiago Fernandes, Jornalista

Nove meses se passaram da fatídica data que nos levaria aos acontecimentos atuais. No dia 31 de agosto de 2016, o Plenário do Senado votava pela condenação da então presidente da República, Dilma Rousseff – acusada de ter cometido crime de responsabilidade e por decretos que geraram gastos sem autorização do Congresso Nacional. No mesmo dia, tomava posse o vice-presidente com a fala de unificar o país e promover a retomada do crescimento econômico. Chegava ao poder, por meio da maior articulação política já vista na história deste país, Michel Miguel Elias Temer Lulia.

Com medidas impopulares assumiu colocando mais lenha na fogueira em um cenário político já em chamas: as reformas trabalhista e previdenciária colocadas em pauta pelo atual presidente demonstravam que unir o país não era bem a intenção. Em qualquer democracia do mundo não se discutem reformas de tamanha magnitude sem a participação popular, muito menos dentro de uma conjuntura política de corrupção.

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Em um país de mentalidade escravocrata, onde ainda encontramos pessoas sendo escravizadas – recomendo a leitura do livro “A Dama da Liberdade”, do jornalista Klester Cavalcanti, que narra a história de Marinalva Dantas, a mulher que libertou 2.354 trabalhadores escravos no Brasil em pleno século XXI -, alterar a Consolidação das Leis Trabalhistas é um tanto perigoso para o último país a abolir a escravidão na América.

A tão comentada reforma trabalhista da Espanha, que serviu de inspiração para o nosso presidente, já revelou que o salário do trabalhador espanhol não acompanhou a recuperação do emprego, e o que se viu foram trabalhos com durações menores e piora na remuneração. A ministra do Emprego do país, Fátima Báñez, já admitiu que é necessário devolver o poder aquisitivo dos espanhóis e assinalou aos empresários locais que a remuneração dos trabalhadores precisa melhorar. Ou seja: uma reforma à custa da perda da qualidade do trabalho.

Situação que nós, brasileiros, como eles, enfrentaremos em um futuro bem próximo. Se não bastasse a mudança trabalhista, também teremos pela frente a reforma previdenciária, que promete colocar fim ao rombo nos cofres da Previdência causado não por nós cidadãos, mas pelas mazelas cometidas há anos pela classe política deste país. Isso tudo cercado por um cenário político obscuro.

Perante as reformas impostas, presenciamos uma sociedade apática, incrédula e sem saber o que fazer ou até mesmo sabendo, porém presa nas suas próprias ideologias e convicções. O poder de indignar, mobilizar e lutar não existe mais perante a incredulidade na política e nos políticos. Até o som das panelas desapareceram. Como se explica a permanência no cargo de um presidente denunciado por corrupção passiva: no mínimo caberia o afastamento das funções.

Michel Temer faz das tripas coração para se manter no cargo e, para isso, usa de artimanhas como almoço e jantar com deputados e liberação de verbas para pagamentos de emendas para aqueles que se comprometem a votar a favor do Governo. Sem nos esquecer da medonha cerca-viva criada a pedido do próprio, no Palácio do Jaburu, com o intuito de impedir o registro por parte dos jornalistas da entrada e saída de aliados.

Somos um país asfixiado pela corrupção, onde as instituições perderam a credibilidade e o Judiciário tomou o poder sobre a vida pública. Somos um povo acuado diante de uma classe política que envergonha, que não é capaz de nos representar, muito menos de nos motivar a lutar por aquilo que é de direito nosso: a vontade de viver dignamente em nossa pátria.

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