Casos de cinomose crescem em JF; veja se seu cão corre risco
Vírus tem infectado não só cães de rua, mas também os que vivem dentro de casa, conforme relatos de veterinários ouvidos pela Tribuna
O número de cachorros infectados com cinomose tem aumentado em Juiz de Fora. A doença, que é infecciosa e atinge cães de todas as espécies, pode deixar sequelas e levar à morte. Apesar de ser conhecida por infectar animais de rua, a cinomose também tem sido diagnosticada em cães que vivem em casa. A Tribuna tem recebido relatos de mortes de cachorros vítimas da doença em diferentes bairros, em um curto período de tempo, e, conforme veterinários dos quatro cantos da cidade, a possibilidade de estar ocorrendo um surto não está descartada. O problema alerta para a importância da vacina óctopla, único meio de prevenção da cinomose.
Segundo o presidente da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa) de Minas Gerais, Abílio Domingos, a cinomose é transmitida por meio de gotículas provenientes de todas as secreções corpóreas dos animais contaminados, e pode ser transmitida da mesma forma que a gripe é transmitida entre os humanos: pelo ar. Entre os sintomas, estão, principalmente, problemas no trato respiratório. “Os cães afetados ficam apáticos e apresentam conjuntivite, secreção nasal, tosse e febre, mas sinais gastrointestinais como vômito e diarreia também podem estar presentes”, explica o veterinário.
A cinomose tem cura, mas pode deixar sequelas neurológicas. O tratamento depende da gravidade dos sinais clínicos, mas geralmente exige hospitalização e isolamento para evitar o contágio de outros animais.
Vacinas
Apesar de não haver raças mais vulneráveis, a cinomose é mais comum em cães não vacinados e em animais cuja imunidade é mais baixa, como filhotes e idosos. “Animais com menos de seis meses de idade são particularmente vulneráveis.” Grande parte da população acredita, erroneamente, que a vacina necessária para evitar a cinomose é a antirrábica. No entanto, a vacina óctopla é a responsável por proteger os cães de até oito doenças. “A vacinação para cinomose pode começar entre a sexta e a oitava semana de idade, com reforço de 2 a 4 semanas até as 16 semanas de idade. Nos cães mais velhos vacinados, recomenda-se um reforço anual. É importante destacar que nenhuma vacina é 100% eficaz, mas a vacinação regular pode ajudar a proteger os animais”, pontua Abílio.
Em Juiz de Fora, a vacina não é aplicada gratuitamente. Nas clínicas veterinárias particulares, a dose da óctopla custa em torno de R$ 80.
Especialistas apontam possível surto
O aumento de animais com cinomose foi observado em todas as clínicas veterinárias contactadas pela Tribuna. Na Animais, no Bairro São Mateus, Zona Sul, a média é de três cães atendidos por dia. O mesmo número é registrado na Benfica Vet, na Zona Norte, onde muitos casos têm sido relatados por moradores da Barreira do Triunfo. Na Veterinária Maxiclin, no Manoel Honório, Zona Leste, a procura pela imunização também aumentou, mostrando que a população está atenta ao problema. No Bairro São Pedro, região Oeste, o Consultório Veterinário Bicho Mania verificou aumento de 50% no número de animais infectados com a doença.
Apesar de não conseguir precisar o crescimento exato no número de casos, a veterinária Érica Tavares Cruz, que atua no São Mateus, relata que já houve épocas em que ficava mais de um ano sem atender um animal infectado com a doença. “Trabalho em Juiz de Fora, em Matias Barbosa e em Simão Pereira, e percebo que realmente há um surto.”
Especialistas apontam que a cinomose é mais comum no inverno, já que é transmitida pelo ar. No entanto, o fato de muitos casos terem surgido ainda no verão alertaram Mariana Sabugosa, veterinária da clínica Bicho Mania. “Atendo mais moradores do São Pedro, mas, por meio de conversas com outros profissionais, percebo que o problema é geral. Os casos aumentaram ainda no verão, e hoje estamos atendendo muitos animais com a doença.” O mesmo aconteceu na Zona Norte. O veterinário Flávio Aiex também percebeu que a cinomose apareceu mais cedo neste ano e destaca a dificuldade de prognóstico. “Todo ano tem um período em que os atendimentos a animais infectados aumentam, mas está acontecendo muito mesmo, fora do comum”, lamenta.
Na clínica Maxiclin, onde dois casos semanais de cinomose são registrados, a preocupação é com a falta de conscientização. “É muito pouco divulgado que os animais precisam da vacina óctopla. As pessoas acham que os cães têm que tomar somente a antirrábica. Outro problema é que muitos animais são vacinados em lojas. Quando a vacina é administrada em clínicas, o veterinário faz uma consulta médica e só aplica a imunização se o animal estiver 100% saudável. Do contrário, a vacina pode não vai fazer efeito”, alerta a veterinária Márcia Soares Rezende.
Mortes de cães preocupam
Há pouco mais de uma semana, o morador de Penido, na Zona Norte, Deusdet Rodrigues entrou em contato com a Tribuna para denunciar a epidemia de cinomose no bairro. De acordo com ele, em uma comunidade de aproximadamente 500 pessoas, cerca de dez cães morreram em um período de duas semanas. “Na minha casa, uma cadela já morreu com a doença, e outra pode estar infectada. Além daqueles que morreram, ainda há outros cães com suspeita de cinomose”, relata.
Geraldo Tomaz, morador do Bairro Floresta, Zona Sudeste, também está preocupado com o problema. “Nunca teve isso aqui, mas já morreram mais de dez cachorros em 20 dias. A gente fica preocupado, porque eles são muito bons para a gente, e, com a doença, passam por um sofrimento muito grande. Queríamos pedir para a Prefeitura mandar um veterinário para vacinar os animais.”
Procurada pela Tribuna, a Secretaria de Saúde informou que não há ações de prevenção ou tratamento contra a cinomose no Município, já que o ser humano não é acometido pela doença. A orientação é que os donos mantenham os cães vacinados. Já a assessoria do Departamento de Limpeza Urbana (Demlurb) informou que o Departamento de Proteção Animal (Dcan) recolhe animais abandonados que estão doentes ou causando risco à população. Eles são tratados no canil.
Caso a população suspeite que algum animal de rua está com a doença, deve ligar para o canil municipal pelo telefone 3690-3591.