Morre, aos 101 anos, Franz Hochleitner, fundador do Museu de Arqueologia e Etnologia Americana da UFJF

Professor estava internado no Hospital São Vicente de Paulo, antigo HTO, desde o dia 7 deste mês, com insuficiência respiratória, e não resistiu


Por Tribuna

12/07/2017 às 12h55- Atualizada 12/07/2017 às 13h21

Franz Hochleitner era austríaco naturalizado no Brasil. Residia em Juiz de Fora desde o final da Segunda Guerra Mundial. (Foto: Olavo Prazeres)

Morreu, na noite da última terça-feira (11), aos 101 anos, um dos principais pesquisadores da história da UFJF: o professor Franz Joseph Hochleitner, criador do Setor de Arqueoastronomia da universidade e fundador do Museu de Arqueologia e Etnologia Americana (MAEA). Franz estava internado no Hospital São Vicente de Paulo, antigo HTO, desde o dia 7 deste mês, com insuficiência respiratória, e não resistiu. O velório acontece na Capela do Cemitério da Paróquia de São Pedro, e o enterro será às 14h. Franz Hochleitner era austríaco naturalizado brasileiro.

Seu nome está eternizado no Centro de Ciências, inaugurado no começo deste mês. A Sala de Arqueoastronomia leva seu nome, em homenagem às suas contribuições à pesquisa acadêmica na universidade. Na ocasião, devido a uma inflamação na garganta e às baixas temperaturas registradas na cidade, professor Franz, como era conhecido, não pôde comparecer à inauguração, mas estava ciente da homenagem e viu as fotos da sala, que reúne parte do acervo do MAEA, inclusive seu principal trabalho: a decodificação da Porta do Sol, um antigo monumento existente na Bolívia.

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A trajetória do professor Franz inclui o meio acadêmico e passagem pela Segunda Guerra Mundial. Formado em Ciências Aplicadas, trabalhou na área de comunicação militar, desenvolvendo e aperfeiçoando métodos avançados de radiocomunicação para a Força Aérea Alemã. Esta experiência trouxe conhecimento e facilidade para interpretar códigos, ideogramas e hieróglifos de culturas antigas, como os dos maias e astecas. Ao chegar ao Brasil, ingressou no curso de História da Faculdade de Filosofia e Letras (Fafile), uma das escolas superiores que estão na origem da UFJF. Simultaneamente, atuou nela como professor de História da América, graças aos conhecimentos acumulados na prática.

Em 1986, com a doação de seu acervo, Franz propôs a criação do Setor de Arqueoastronomia, área que o inseriu, definitivamente, no meio acadêmico. Mais tarde o setor se transformou em Museu de Arqueologia e Etnologia Americana (MAEA). Até 1999, professor Franz, mesmo aposentado, dedicou-se diariamente ao setor. Vinha a pé de sua casa, no Bairro São Pedro, Cidade Alta, para se ocupar do acervo no Campus, que só deixou de acompanhar após sofrer um AVC.

 

Biografia

Franz Joseph Hochleitner nasceu em 30 de abril de 1916 em Salzburg, na Áustria. Após formar-se em Ciências Aplicadas, ingressou, em 1936, na Theresian Military Academy, Wiener Neustadt, no curso de Informação e Comunicação Militar. Em 1938, com a anexação da Áustria ao Terceiro Reich, foi incorporado como oficial no regimento especial da Luftwaffe, Força Aérea alemã, com o intuito de criar, treinar e aperfeiçoar métodos avançados de radiocomunicação. Ao final da guerra, ferido e devastado pela experiência, vislumbrou a perspectiva de uma nova vida ao aceitar o convite feito pelo amigo Hermann Görgen, que vivia no Brasil, para dirigir a Indústrias Técnicas Ltda. (Intec), em Juiz de Fora.

Em 1957, publicou o artigo “A Porta do Sol de Tiahuanaco: Ensaio de Decifração de seus Ideogramas” no jornal Diário Mercantil de Juiz de Fora. Franz foi indicado pela Organização Internacional de Trabalho (OIT) de Genebra, na Suíça, para atuar no projeto de constituição da Escola de Aprendizagem para Jovens Aymara, na localidade de Pillapi, região do Lago Titicaca, Bolívia, durante os anos de 1959 e 1960. Na ocasião, apresentou seu artigo sobre a Porta do Sol de Tiwanaku ao arqueólogo Carlos Ponce Sanginés, então Ministro da Cultura do governo boliviano, que o convidou a participar das pesquisas arqueológicas. Esses eventos o levaram a ingressar na Fafile no curso de história e como professor de História da América.

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Em 1964 recebeu uma bolsa da Fundação Alexander von Humboldt, para formação em Völkerkunde (Arqueologia e Etnologia) sob orientação do Prof. Dr. Hermann Trimborn, da Universidade de Bonn, Alemanha. A carreira de Franz está presente no livro “Memórias Autobiográficas de Franz Joseph Hochleitner”, publicado em 2005 pela Editar Editora Associada.

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