Laboratório #04


Por Wendell Guiducci

27/06/2017 às 07h10

A exposição de Fábio Assunção caído no fundo do poço numa festa de São João em Arcoverde, Pernambuco, decreta oficialmente o fim da máxima “todo mundo vê as pingas que eu tomo, mas ninguém vê os tombos que eu levo”.

Se você der mole, conectado leitor, haverá sempre câmeras portáteis a postos para filmar seus tombos e compartilhá-los imediatamente em grupos de zap-zap e redes sociais variadas.

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Especialmente se o seu tombo for seguido de suas pingas.

Mãos para ajudá-lo a se levantar serão artigo raro.

O que aqueles vídeos de Fábio Assunção digladiando-se contra a própria fraqueza mostram, no chão e dentro do camburão, é isso: que almejamos o infortúnio alheio como fonte de prazer, o escárnio como válvula de escape de nossas próprias maldades.

Gozar com o tombo dos outros, parodiando a máxima.

Um colega me chamou para ver o vídeo do ator na sarjeta nos confins do sertão pernambucano.

Minha primeira reação, instintiva, foi rir.

A segunda, indigesta, foi sentir um mal-estar por rir.

– Vem aqui ver o outro vídeo.

– Cara, isso me dá um pouco de deprê -, respondi.

A mim parece triste ver um cidadão, um pai que luta uma batalha pública contra as drogas – e a História pública e privada já provou que é uma batalha terrível de ser lutada também para todo mundo ao redor -, sendo servido de prato principal para um banquete de abutres com olhos de 8 megapixels numa festa de São João.

As pingas que tomas, perspicaz leitor, eu sei que você mesmo dá jeito de postar no Facebook, no Instagram: taças de vinho tilintando, latões de Itaipava empilhadas, garrafas de Jack Daniel’s e copos de caipirinha finamente decorados.

Tudo muito bonito.

Mas ai de um amigo na balada que te filme chamado urubu de meu louro.

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Que te fotografe chamando o raul no meio da pista.

Caído na porta do Muzik.

Relações cortadas para sempre.

Fábio Assunção não terá a oportunidade de cortar relações com nenhum daqueles que expuseram sua miséria como um show de sadismo.

Não são do círculo de amizades dele.

E não passarão à história sequer como urubus tecnologizados e sem nome.

 

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