‘O Círculo’ discute os limites da exposição e o direito à privacidade na internet
Filme estrelado por Emma Watson e Tom Hanks critica poderio das megacorporações virtuais
Criar histórias sobre os perigos da tecnologia para o ser humano não é novidade. Nem mesmo o quanto a internet pode ser “má”. Basta ver o que se fala, tanto na realidade quanto na ficção, sobre os perigos dos Facebook e Google da vida, e que renderam episódios como “Nosedive” para a série “Black Mirror”. E é o caso de “O Círculo”, longa de James Ponsoldt que chega nesta quinta-feira ao Brasil, com Emma Watson, Tom Hanks, John Boyega e Karen Gillan nos papéis principais.
O longa-metragem adapta para o cinema o livro de Dave Eggers lançado em 2013, que discute temas tão caros ao “admirável mundo novo” da internet, redes sociais e dispositivos conectados 24 horas por dia, sete dias por semana. A ideia é refletir a respeito dos limites da privacidade (e sua consequente invasão/compartilhamento), o poderio das megacorporações do universo digital, a necessidade de “pertencer a um grupo” e ter a sua aprovação, alienação, distanciamento.
E a pecinha que vai servir de base para isso é Mae Holland (Watson), jovem que trabalha para pagar as dívidas estudantis e ajudar o pai (Bill Paxton, em seu último papel antes de morrer, em fevereiro) que sofre de esclerose múltipla. Uma pessoa ordinária e de vida ordinária até que sua amiga Annie (Gillen) consegue para ela uma entrevista de emprego na empresa O Círculo, a maior do mundo no setor de tecnologia. E quando se diz “a maior”, é a maior mesmo: comandada por Eamon Bailey (Hanks), O Círculo é uma mistura de Google com Facebook, oferecendo a mais popular das redes sociais e uma série de produtos e serviços “uau, que maneiro!” que conquistam os corações das pessoas.
Mae vai conseguir o emprego, claro, e é encarregada por receber as reclamações do clientes. Com poucos dias, porém, ela vai descobrindo o tamanho do negócio em que sem enfiou. Eamon acredita que a transparência total e absoluta é o segredo para se acabar com conflitos, doenças, fome, guerras, e por isso O Círculo criou uma rede social em que tudo é compartilhado pelas pessoas em tempo real, com cada perfil sendo criado a partir de prosaicos e-mails e até mesmo suas atividades fora do mundo virtual. Todo mundo sabe o que todo mundo está fazendo, comendo, onde está passeando, sua opinião sobre filmes, séries, livros preferidos, posições políticas, o nome do cachorro de estimação, quais os problemas de saúde da família, e por aí vai. E é claro que as reações são as mais positivas possíveis, pois ninguém quer ficar com o amiguinho virtual.
A nova funcionária, a princípio, fica receosa em participar desse universo, mas aos poucos é “encorajada” a interagir com as publicações dos colegas do grupo, numa sucessão de emojis sorridentes e fofinhos. Ela se torna cada vez mais alienada em relação ao mundo “real”, mais preocupada em galgar posições de popularidade entre os seus círculos sociais virtuais, esquecendo-se até mesmo dos pais e do namorado. E O Círculo também ajuda nisso, oferecendo a solução para todas as necessidades de seus funcionários em sua gigantesca sede. É como se fosse uma prisão sem grades. Parece “Black Mirror”? Com certeza.
Como se pode imaginar, tamanho saco de bondades deve ter alguma coisa que não cheira bem lá no fundo. E quem fica responsável por alertar Mae sobre o que há de podre no reino d’O Círculo é Ty Lafitte (Boyega), um dos responsáveis pela criação do programa e que chama a atenção da jovem para o risco de a empresa acumular em seus servidores todas as informações possíveis sobre seus usuários. Aí será hora de tentar desvendar o que Eamon realmente deseja com sua rede social de transparência total.
O Círculo
UCI 1 (leg): 15:00, 20:00, 22:30. Cinemais Alameda 1 (dub): 15:20, 19:10. Cinemais Alameda 1 (leg): 21:20. Cinemais Jardim Norte 5 (dub): 15:20, 18:50. Cinemais Jardim Norte 5 (leg): 21:20. Classificação: 12 anos