Conflito de egos


Por Gláucia Simas

13/05/2017 às 07h00

Os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, embora veteranos no Supremo Tribunal Federal, têm dado vazão ao ego para marcar sua posição. A última foi a decisão de Marco Aurélio de se declarar impedido em processos que envolvessem o escritório de advocacia Sérgio Bermudes, no qual sua sobrinha Paula Mello é uma das advogadas. Coincidentemente, a mulher de Gilmar, Guiomar Mendes, é uma das sócias do mesmo escritório, e ele não se sentiu impedido em acolher, junto com os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, o habeas corpus que tirou o empresário Eike Batista do cárcere, a despeito de ser um dos clientes da mesma banca.

Gilmar viu no gesto do colega uma provocação e bateu duro, chamando-o de velhaco, num claro enfrentamento que mais mostra o conflito de egos do que a essência da causa. O STF é uma casa jurídica com fortes conotações políticas, a começar pela indicação de seus membros, mas a notoriedade com os fatos recentes tem inflado o discurso de alguns de seus juízes, que em nada ajuda nas ações da corte. O STF é uma casa de discussão constitucional, apta para pacificar os entreveros entre Legislativo e Judiciário e para julgar tais diferenças, mas, quando seus próprios membros se envolvem no jogo político, os danos são imprevisíveis.

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A Suprema Corte dos Estados Unidos também é preenchida por indicação do presidente da República, mas não passa disso. Seus membros não ficam sistematicamente na mídia e nem expressam suas posições, salvo nos autos, embora se lhes conheça o viés ideológico. É a forma adequada para se preservar.

No Brasil, mesmo sendo um político por excelência, tendo sido senador da República e ministro da Justiça, o jurista Paulo Brossard não entrava nessas divididas. Quem quisesse conhecer suas posições sobre determinado tema tinha que esperar os autos. Discurso para a plateia, somente quando era parlamentar, o que, aliás, fazia com raro brilho.

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