Batalha de Itararé
O encontro do juiz Sérgio Moro com o ex-presidente Lula, que muitos, ousadamente, consideraram ser o encontro do século, como é comum nos confrontos no ringue e até mesmo em outras competições esportivas. Foi um fiasco nesse aspecto, mas dentro do que se esperava: o juiz exerceu suas prerrogativas, de indagar até o limite, e o réu evitou produzir provas contra si, negando, como já era esperado, as acusações que lhe foram imputadas pelo Ministério Público.
Tratar o caso como um enfrentamento foi um desserviço de todos os setores que entenderam ser a audiência um ringue, e esse cenário não se situa apenas na imprensa, como querem crer, mas também entre as lideranças políticas, principalmente, que tentaram criar um clima de confronto para levá-lo, em seguida, para os palanques. As manifestações foram dentro do esperado, restando, agora, a entrega de documentos e alegações finais para uma sentença de mérito do magistrado.
O país tem sido dividido, sobretudo nas redes sociais, entre os prós e os contras, e não há espaço para o diálogo e nem mesmo para a mera discussão. São posturas de toda ordem, que não abrem mão de seus conceitos, preferindo ter a velha opinião formada sobre tudo. Esse ambiente contaminou a vida política – fruto, em boa parte, dos próprios políticos – e tornou-se um problema para o futuro. O presidente Michel Temer tem razão quando diz ser preciso “eliminar uma certa raivosidade”.
O desfecho do encontro foi emblemático. O ex-presidente admitiu que parte de seu discurso é feito para animar a plateia, como mandar prender os que hoje querem prendê-lo, mesmo sabendo que não tem essa prerrogativa, e o juiz observando que não vai se contaminar pelo ambiente externo. A sentença terá como base as provas produzidas nos autos. E só. Como deve ser, aliás.