A baleia é azul, e qual é a cor da sua família?


Por Walber Gonçalves de Souza, professor e membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni

02/05/2017 às 07h00- Atualizada 02/05/2017 às 07h49

O assunto do momento é o jogo on-line chamado “Baleia Azul”. De acordo com as informações encontradas nas redes sociais e mídias jornalísticas, no jogo, os participantes são convocados a praticar, na vida real, diversas atividades, entre elas: automutilação, práticas que geram risco de vida, como subir nos parapeitos de prédios e até mesmo o suicídio.
Como professor e pai, tenho visto que muitas crianças e muitos adolescentes estão desesperados, aterrorizados com a possibilidade de se tornarem uma das vítimas do temido jogo. Mas o que podemos fazer frente a esta situação? Que reflexões ela suscita?

O ser humano parece que realmente está perdendo o senso de sua própria existência, brincando com coisas sérias, desdenhando o sofrimento alheio. Os adultos ou jovens criadores deste jogo parecem não perceber com quem de fato estão “brincando”. Envolvendo crianças e adolescentes com coisas sérias, com tarefas e atitudes que são impróprias para suas fases da vida.
Já existem estudos que demonstram o alto índice de suicídio entre crianças – isso mesmo que você acabou de ler, crianças! Elas estão sofrendo e querendo acabar com a própria vida, acreditando que, agindo assim, resolvem os seus problemas. A que ponto estamos chegando!

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Os criadores deste jogo o fazem pois sabem que há um contingente enorme de pessoas pronto para recebê-lo, bem como para patrociná-lo, caso consigam obter sucesso. Pois tratam justamente das fraquezas e das angústias com ares de fortaleza e coragem, daí provas bizarras que demonstram esta ambiguidade.

Mas se a baleia ganhou a cor azul, qual seria a cor das nossas famílias? Como nossos filhos estão sendo criados, educados e formados? Que valores estão recebendo? Qual é o tamanho do grau de abandono? Por que nossas crianças e nossos jovens estão sofrendo? Por que são presas fáceis destes jogos? Intermináveis perguntas que esbarram em uma outra, que talvez seja a mais significante de todas: onde estão as famílias?

Nenhuma família é um conto de fadas, todas possuem seus problemas, seus desafios e suas preocupações diárias. Educar não é uma tarefa fácil, não há uma receita. Mas onde estão nossas famílias?

A era do politicamente correto, de a proibição ser vista sempre como um problema, de não se poder dizer não, da falta de limites como consequência da libertinagem geral começa a dar seus sinais.

Um dia, ouvi de um amigo de longa data que pai ou mãe não devem ser amigos dos seus filhos, mas sim pai e mãe. Devem cumprir o seu papel, a sua função. É claro que ser amigo faz parte, mas ser pai e mãe vai muito além disso, não é missão para amigo.

A “Baleia Azul” só nada nos mares agitados do abandono, da carência, do isolamento, da falta de carinho, de zelo, da falta de compromisso familiar. Acabar com a “Baleia Azul” é muito pouco para uma sociedade que está promovendo lentamente a extinção dos núcleos familiares, que incentiva silenciosamente e constantemente o seu fim. Mesmo que a febre da baleia passe, daqui a uns dias, outro animal toma o seu lugar, e, pelo visto, como diria o filósofo Thomas Hobbes, este outro animal será o próprio ser humano. Triste vivenciar a era do salve-se quem puder!

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