A espera de Temer


Por Lina Castro

20/04/2017 às 07h00

No início da semana, o presidente Michel Temer disse que não iria segurar ministros envolvidos com a Lava Jato, acreditando que eles próprios se sentiriam incomodados e pediriam as contas. Se foi um recado para a sua equipe, ainda não surtiu efeito. Se foi apenas uma expectativa, o tempo é que vai conferir. Esse tipo de estratégia, porém, nem sempre funciona, sobretudo dentro das instâncias de poder, em que a briga por espaço é permanente. Os ministros não falam ou fazem por si próprios, mas também por grupos de interesses, sobretudo partidários. Por isso, o presidente, em vez de usar atalhos, deveria dizer claramente que espera a carta de demissão dos envolvidos, a fim de tirar da sua administração o ônus de carregar políticos comprometidos nas investigações da Odebrecht.

Quando o general Ednardo D’Ávila Mello se envolveu no caso do operário Manoel Fiel Filho, o presidente Ernesto Geisel não esperou que ele ficasse desconfortável. Como bem lembrou o jornalista Elio Gaspari, que escreveu cinco livros sobre o período militar, a demissão foi imediata do comando do II Exército, mesmo com desconforto na caserna. Anos depois, o presidente Itamar Franco afastou o ministro Henrique Hargreaves, que também era seu amigo fraterno, até que ele provasse denúncias de envolvimento com ações nos Correios. Ele provou sua inocência e voltou fortalecido para o cargo. Já o presidente Temer vai continuar esperando.

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Embora todos tenham o pleno direito de defesa, afastar ministro não implica necessariamente considerá-los culpados. Trata-se apenas de um rito de Governo que deveria ser aplicado em todas as instâncias, pois, quando se trata de serviço público, não basta dizer que é inocente, sendo preciso prová-lo, como a mulher de César. As delações premiadas continuam sendo reveladas, inclusive aquelas de viés sigiloso, como mostrou o jornal “Estado de S. Paulo”. Tanto nestas quanto nas anteriores, importantes atores políticos estão envolvidos, numa prova clara de que é preciso investigar e punir os que confundiram o público e o privado em benefício pessoal.

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