Jogo de empurra


Por Júlia Pessôa

09/04/2017 às 07h00

Na agenda dos políticos, o tema recorrente é quem sobreviverá à Lava Jato, pois, a cada dia, ante novas delações, novos atores entram em cena. Em decorrência disso, outras questões ficam para depois, inclusive algumas de interesse dos próprios políticos, como as eleições de 2018. Se antes havia um intenso debate em torno de nomes, esse cenário mudou, ou, pelo menos, se estabilizou. Os pré-candidatos adotaram a prudência, mesmo aqueles que não têm contas a pagar, mas que reconhecem que suas ações só podem ser desenvolvidas a partir do instante em que conhecerem os concorrentes.

Mas não é só o guiso da Polícia Federal e do Ministério Público que impede a antecipação da campanha. O Congresso ainda não definiu sob que regras o pleito será realizado, mantendo em banho-maria uma necessária reforma política, talvez esperando o esgotamento do prazo para dizer, então, que ela só irá valer para 2020. É que, de acordo com a anterioridade legal, para valer no ano que vem, as regras precisam ser aprovadas com um ano de antecedência, isto é, até final de setembro. Mas, nesse ritmo, contando ainda com um recesso de meio de ano, é pouco provável que saia algo consistente do Parlamento.

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Essa estratégia, aliás, é uma velha articulação adotada por aqueles que não querem mudança alguma, preferindo as atuais regras pelas quais a única penalizada é a população. Os políticos gostam do modelo, pois nele já estão inseridos, só reclamando quando são rejeitados pelas urnas. Temas como cláusula de desempenho, voto distrital, financiamento de campanha são fundamentais para o avanço democrático, mas não agradam os ouvidos especialmente dos partidos de menor porte, que sabem que qualquer tipo de cláusula de barreira poderá tirar-lhes os benefícios do fundo partidário.

O financiamento é outra demanda que ainda não foi pacificada a despeito de ser a matriz de tantas mazelas ora desvendadas pelas investigações. O mês de abril já avança para a sua metade, e o debate não sai do lugar, sendo tocado nos bastidores por um pequeno grupo de agentes políticos que, em alguns pontos, pensam mais na sua sobrevivência do que na modernidade do sistema.

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