Morar Bem | Espaços públicos e vida urbana


Por Lina Castro

01/04/2017 às 07h00

O retorno a questões fundamentais da urbanização, como a recuperação de espaços públicos, é tendência em várias cidades do mundo por conta do impacto destes na qualidade de vida. Sobram exemplos de como isso afeta a vida dos seus habitantes, como os congestionamentos onde se perdem horas para ir de um ponto a outro. Segundo pesquisas recentes, aqui na América Latina, em Bogotá se passam 79 horas no trânsito, e em São Paulo, 77. Nas sociedades modernas, o papel estratégico dos espaços públicos foi limitado, sendo a massificação dos automóveis um dos principais fatores.

Passeie por qualquer cidade medieval europeia ou mesmo pelas nossas históricas e sinta como as ruas são sem a presença dos carros: pequenas, estreitas, agradáveis, arborizadas e em proporção com a escala humana.

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A importância dos espaços públicos na vida urbana é um assunto presente desde a Grécia antiga e segue nos nossos dias. As possibilidades de encontro, mobilidade e de debate nesses lugares são capazes de influenciar na forma como os habitantes participam no desenvolvimento de sua cidade. E é preocupante encontrar, em muitos, a ausência de sentimento de se pertencer à cidade em que se vive.

Neste sentido, é necessário que ruas, praças e calçadas se tornem realmente espaços públicos com ênfase no transporte coletivo e na bicicleta como meio de transporte e convivência de populações de diferentes perfis socioeconômicos nos mesmos bairros. Isso se consegue num projeto urbano pensado com novas formas de revitalização, como intervenções locais que possibilitem maior variedade de usos e vias mais acessíveis, seguras e centradas no uso dos pedestres para privilegiar a convivência social e o resgate de espaços públicos.
Outro ponto influente são as áreas verdes que não só estarão beneficiando os cidadãos, mas também contribuindo tanto com o controle das águas das chuvas – pavimentações permeáveis que contribuem em aliviar enchentes e alagamentos – quanto com o ecossistema local, aumentando a capacidade de recuperação urbana e reduzindo a distância entre as pessoas e a vegetação dentro desse contexto.

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Por fim, a rua é uma propriedade pública, o que significa que o público tem o direito de ocupar. O que estamos vendo em países democráticos são pessoas se reunindo para serem vistas como grupo, para serem ouvidas. Todavia, além do direito de ocupar, temos o dever de cuidar. O primeiro responsável pelo bem público é o cidadão que apenas cede parte do seu poder ao Estado. Entretanto, faz parte da cidadania se envolver mais nas tarefas públicas, como: acompanhar os parlamentares, opinar, exigir serviços melhor realizados, efetivos e com economia de recursos. Além disso, zelar é um dever de todos, e a maioria das depredações dos bens públicos ocorre pela falta de consciência da população em não cuidar daquilo que é seu além de não se levar em conta o custo de reposição, gasto extra que poderia ser aplicado em outras melhorias para a cidade.

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