É hora de morfar


Por Júlio Black

23/03/2017 às 07h00- Atualizada 23/03/2017 às 09h03

Adolescentes em trajes coloridos precisam salvar o mundo quando uma vilã decide atacar uma cidade do tamanho de uma azeitona em 'Power Rangers' (Foto: Divulgação)
Adolescentes em trajes coloridos precisam salvar o mundo quando uma vilã decide atacar uma cidade do tamanho de uma azeitona em ‘Power Rangers’ (Foto: Divulgação)

Dos 5 aos 35 anos (talvez um pouco mais), pelo menos duas gerações foram criadas em frente à televisão assistindo às aventuras das várias encarnações dos Power Rangers, série Super Sentai (variação do gênero Tokusatsu, que denomina as séries de super-heróis japonesas) que chegou por aqui nos anos 90, na TV Globo, apostando no sucesso de outras produções que passavam na extinta TV Manchete. Importada para o Brasil a partir da versão americana, que trocava os atores orientais por americanos, a série e suas continuações conquistaram fãs não apenas por aqui, mas também em diversas partes do globo, o que justifica o lançamento de “Power Rangers”, que estreia nesta quinta-feira.

Co-produção americana-japonesa, o longa dirigido por Dean Israelite trata de dar uma origem – e um passado – para o supergurpo, mas também inclui diversos easter eggs para os fãs se deliciarem. A começar pelo local em que se passa a história: nada de grandes centros como Nova York, Chicago, Los Angeles, Tóquio. A localidade escolhida é a pequena Angel Crove (o que também ajuda a baratear os custos de produção com seus edifícios de poucos andares…), onde vive um grupo de jovens desajustados e alvo de bullying por parte de seus colegas de escola.

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Essa patotinha, toda adolescente, inclui um promissor jogador de futebol americano que é forçado a abandonar o esporte após ferrar o joelho em um acidente de carro provocado por ele mesmo; uma guria que muda de cidade – e escola constantemente; outra era até popular na escola, mas sumiu por seis meses e virou uma espécie da pária; um sujeito festeiro e galanteador, mas que na vida familiar enfrenta altos perrengues; e o rapaz inteligente porém muito envergonhado, com dificuldades de comunicação e que sempre é perseguido. Sem ter muito o que fazer e “unidos” pela exclusão, certa noite eles vão parar em uma quebrada distante do centro da cidade, onde descobrem uma nave espacial enterrada e cinco distintivos que levam para casa, descobrindo posteriormente que adquiriram superpoderes.

Grandes poderes exigem grandes responsabilidades, ou respostas, e os cinco jovens voltam até a tal nave espacial, onde são recebidos por Zordon (voz de Bryan Cranston, da série “Breaking Bad”, e que seria o primeiro Ranger Vermelho) e o robô Alpha 5 (voz de Bill Hader, ex-“Saturday Night Live”), e então descobrem que eles adquiriram os poderes dos Power Rangers, um grupo de heróis que deve proteger a Terra de ameaças que queiram destruir o planeta. Eles teriam sido assassinados pela vilã Rita Repulsa (Elizabeth Banks, supostamente uma antiga Ranger Verde que traiu e matou seus antigos colegas), e caberá aos cinco jovens impedir que a vilã concretize seus planos de dominação mundial.

Incoerências à parte (é preciso muita suspensão de descrença para acreditar que tanto poder e a tarefa de salvar a Terra seriam dados para cinco adolescentes), “Power Rangers” deve fazer a alegria tanto dos fãs da série original – e hoje adultos – quanto dos mais jovens, com a presença dos personagens que marcaram época na cultura pop e as marcas registradas da série, como os robôs Zords que formam o gigantesco Megazord e a tradicional frase “é hora de morfar!”.

Uma tradição nipônica que criou raízes

A franquia “Power Rangers”, com sua série original e derivações, pode ser a mais popular no país por vários motivos, entre eles a transmissão por uma emissora de TV de grande alcance (a Globo) quanto pelo desenvolvimento da tecnologia, com a abertura da TV por assinatura, internet e ferramentas afins. Mas a tradição de séries japonesas com super-heróis remonta à década de 60 no Brasil, quando a TV ainda era em preto e branco.

Lançada em 1961 no Japão, “National Kid” não teve tanta repercussão em sua terra natal, mas se transformou numa febre aqui no Brasil, sendo transmitida pela TV Rio, Tupi e Globo até o início dos anos 70, quando parou de ser exibida devido a um decreto que proibia séries com heróis voadores, por atentarem contra a moral e os bons costumes. Coisas que só a irracionalidade de uma ditadura poderia explicar.

O sucesso de “National Kid” teve como consequência o lançamento de algumas séries que até hoje fazem a festa dos saudosistas, como “Ultraman”, “O regresso de Ultraman”, “Spectreman” e Robô Gigante”, que apesar dos efeitos especiais ridículos (prédios de papelão, jatos que voavam por meio de fios, roubas de borracha para os heróis e monstros) marcaram gerações entre os anos 60 e 80.

E foi na década de 80 que os mais jovens tiveram a oportunidade de conhecer uma nova geração de Super Sentais e Tokusatsus, graças à finada TV Manchete (hoje Rede TV!). Foi a emissora do falecido Adolpho Bloch que lançou no Brasil, “Jaspion”, “Changeman”, “Lion Man”, “Black Kamen Raider”, “Winspector”, “Jiraiya”, “Flashman”, “Jiban”…

…Até a TV Globo perceber o tempo que estava perdendo e, lá por meados dos anos 90, conseguir boas audiências pela manhã com as aventuras dos “Power Rangers” e suas continuações, sempre passadas em Angel Crove e com atores americanos para as cenas cotidianas, mantendo a série original apenas nas cenas de batalha. Apesar de tosca, a fórmula funcionou a ponto de hoje, mais de 20 anos depois, os Power Rangers voltarem aos cinemas com uma produção que em nada lembra as produções caça-níqueis de 1995 e 1997.

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Power Rangers

UCI 2 (dub): 13:30, 18:30. UCI 2 (leg): 16:00, 21:00. Cinemais Alameda 3 (dub): 14:40, 19:20. Cinemais Alameda 3 (leg): 17:00, 21:40. Cinemais Jardim Norte 2 (dub): 14:40, 19:20. Cinemais Jardim Norte 2 (leg): 17:00, 21:40. Classificação: 10 anos

 

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