Todos no mesmo barco


Por Tribuna

05/03/2017 às 07h00

O financiamento de campanha foi a matriz da maioria dos problemas ora desvendados pelas ações da Polícia Federal e do Ministério Público

As discussões em torno do financiamento de campanha não se encerraram após a proibição do dinheiro de empresa nos comitês partidários, uma vez que ainda há brechas ou, sobretudo, uma legislação capaz de pacificar essa questão. As recentes imputações feitas pela operação Lava Jato são a prova material de que ainda há muito por fazer, pois a prática de buscar dinheiro das empresas foi adotada à esquerda, à direita e ao centro, não havendo legenda isenta nesse processo. Fechar essa torneira foi um passo, mas é preciso avaliar se é definitivo, pois há sempre o risco do caixa dois quando não há meios de garantir as campanhas com recursos próprios.

O financiamento público chegou a entrar na agenda do Congresso, mas não foi totalmente comprado nem pelos parlamentares nem pela opinião pública, que ainda não se convenceu de seu uso adequado. A avaliação de experiências de outros países deve ser uma referência, pois, quando se trata de campanha, as brechas são sistematicamente usadas.
Agora, quando o tema entra na agenda do Tribunal Superior Eleitoral, no qual corre ação patrocinada pelo PSDB contra a chapa Dilma-Temer, há também o risco de o próprio autor ter que se explicar. As delações do empresário Marcelo Odebrecht e de seus executivos apontam para um repasse de R$ 15 milhões para os tucanos, a pedido do senador Aécio Neves, presidente nacional do partido. Ele garante que foi tudo por dentro, o empresário não tem certeza.

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O problema das doações é a forma pouco republicana das contrapartidas. Até mesmo em sólidas democracias há doações, mas são às claras e sem esse “outro lado”, que acaba sendo o ponto perverso da relação. Os escândalos do mensalão e da Petrobras foram a prova mais recente de como o assunto é tratado. É o tipo de “uma mão lava a outra”, drenando recursos dos órgãos públicos. Num ano sem eleição, o Congresso precisa colocar essa demanda na reforma política, ora em tramitação na Casa.

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