Composição cruzada
A definição de crossover é para um carro que mistura características de utilização de mais de um segmento. No caso do Captur, lançado nas últimas semanas, a Renault fez uma composição que começou já na engenharia do projeto. A marca francesa pegou a plataforma do Duster como apoio e aplicou sobre ela um desenho semelhante ao do Captur original, francês, que é 20 cm menor. Embora o conteúdo seja ligeiramente superior ao do velho Duster, como a presença ESP e airbags laterais, a Renault aposta em design refinado e no tamanho mais avantajado para valorizar seu novo carro entre os SUVs e crossovers compactos.
A lógica de oferecer um carro mais espaçoso por um valor ligeiramente menor que os rivais é a mesma que a marca implementou com Logan e Sandero. Os preços são de R$ 78.900 e de R$ 88.490, respectivamente. Com todos os opcionais, o que inclui a pintura em duas cores, chegam a R$ 82.290 e R$ 91.390. Ou seja: mesmo com o aumento do preço do Duster, que passou de iniciais R$ 69.620 para R$ 75.320, o Captur disputa um mercado superior, com carros com mais apelo “social” que aventureiro, como Honda HR-V, Nissan Kicks, Hundai Creta e Ford EcoSport. Tanto que a marca não tem sequer a intenção de lançar uma versão 4×4.
A ideia, ao contrário, é tornar o Captur ainda mais dócil e atraente para um público que é atraído pela ideia de parecer aventureiro, mas que gosta mesmo é de conforto. Inicialmente, o Captur chega em duas versões, que já seguem uma nova nomenclatura que vai se espalhar por toda a gama: a básica se chama Zen e a top, Intense. Em relação ao conteúdo, a maior inovação do Captur é vir de série com o controle de estabilidade e tração, ou ESP (do inglês Eletronic Stability Program). Este recurso é muito difundido nos países centrais e vem, aos pouco, tornando-se comum no Brasil. Até porque será obrigatório para os modelos lançados a partir do ano 2020 e para todos os automóveis novos a partir de 2022.
A Captur Zen traz ainda de fábrica airbags laterais, além dos frontais obrigatórios, rodas de liga aro 17, chave-cartão presencial e retrovisores rebatíveis eletricamente. Além dos itens de praxe: ar, direção eletro-hidráulica, controle de cruzeiro, trio elétrico, computador de bordo, rádio com bluetooth e sensor de obstáculos traseiro. Opcionalmente, pode receber o sistema multimídia com tela de 7 polegadas e câmera de ré. A versão Intense agrega de série estes dois itens e ainda inclui sensores de chuva e de luminosidade, ar automático, faróis de neblina com função de iluminação lateral. Opcionalmente pode receber revestimento em couro e pintura em dois tons.
A versão Zen vem sempre pelo novo motor da marca 1.6 SCe, que passou a ser usado recentemente pelo Duster. Ele gera 118 cv com gasolina e 120 cv com etanol, com torque de 16,2 kgfm com qualquer combustível. Por enquanto, a Zenm vem sempre equipada com um câmbio mecânico de cinco marchas, mas. em meados no ano. a Renault deve estrear um novo câmbio CVT e aposentar o famigerado câmbio automatizado Easy’R. A top Intense vem com o tradicional motor 2.0 16V, gerenciado sempre pelo antigo câmbio automático de quatro marchas, conhecido desde os tempos da Scénic. Ele gera 143/148 cv e 20,2/20,9 kgfm de torque com gasolina/etanol.
A “solução” de compatilhar motores e transmissões foi no intuito der manter os custos de produção do Captur sob controle, pois são produzidos no Paraná. Foi também no sentido de conter investimentos que a Renault preferiu usar a plataforma do Duster, mesmo sendo obrigada a criar uma nova carroceria, intensamente inspirada no Captur francês. Ainda assim, foram investidos R$ 500 milhões no projeto. Além dos 20cm a mais que o modelo francês, o Captur brasileiro ganhou 7cm de entre-eixos e ficou com 2,67m. Maior até que o de crossovers médios, como Hyundai iX35, Toyota RAV4 e Honda CR-V. Este compartilhamento também facilita para a rapidez de se adaptar à demanda do mercado entre Duster e Captur. Os executivos da marca se esquivaram de apontar uma estimativa de vendas, mas talvez a imagem da marca no país e o despojamento do Captur atrapalhem em um segmento de mercado que é mais sofisticado.