Lei de Gérson


Por Renato Salles

24/02/2017 às 07h00

Penso que a superação da corrupção passa pela aceitação de que somos, de fato, desonestos. Adoramos estacionar em local proibido ou furar fila, por exemplo. Desejamos ser o Gérson da propaganda dos cigarros Vila Rica. Gostamos de “levar vantagem em tudo, certo”? Errado, amigo, por mais que o sorriso do Canhotinha de Ouro possa nos convencer do contrário.

O tricampeão mundial, contudo, foi pego para Cristo ao se tornar símbolo do “jeitinho brasileiro” no comercial que cunhou a “Lei de Gérson”. Mas o fato é que, além de ópio do povo, o futebol reforça a manutenção de uma “malandragem” enviesada, em que, independente dos meios, o que se importa é se dar bem.

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O último caso aconteceu no clássico entre Corinthians e Palmeiras. Após o juiz dar cartão para o corintiano errado e expulsar o volante Gabriel de forma injusta, todos os jogadores adversários se emudeceram. Aliás, o palmeirense Keno fez questão de denunciar o “inocente” e garantir, por vias tortas, a vantagem numérica. Frise-se: não se trata de questão clubística, uma vez que tenho certeza que, em situação análoga, 99,9% dos jogadores brasileiros teriam feito o mesmo.

Se usamos o futebol como metáfora para tudo, não podemos ignorar o pensamento de que “ganhar roubado é mais gostoso”. Enquanto nos regozijarmos com os erros que nos são favoráveis, manifestações como os panelaços não passarão de hipocrisia. Reitero: a mudança só começará quando a sociedade se entender desonesta e quando deixarmos de fingir que tocamos a bola na pelada de fim de semana em troca de um lateral maroto.

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