Tempos para dois


Por Tribuna

17/11/2016 às 08h52- Atualizada 17/11/2016 às 09h20

Após um ano separados, Bruno e Marino, um antigo casal homossexual, decidem se reencontrar. Um presente de um para o outro. Num quarto de hotel, enquanto a chuva do lado de fora, os dois reelaboram o passado e discutem o presente, até que a imagem de dois cavalos pretos na rua muda o rumo da aproximação. Pouco a pouco, os dois se dão conta de que há cavalos fora e também dentro do quarto. E é tempo de eliminá-los. “A princípio, líamos os cavalos como algo apenas do exterior, mas na medida em que compreendíamos todo o texto, percebíamos que também éramos esses cavalos”, pontua Bruno Quiossa, ator e co-diretor de “Tempo de afogar 2 cavalos”, espetáculo que estreia nesta quinta e segue em cartaz até domingo, às 19h e às 21h, no O Andar De Baixo. O espetáculo reúne sete histórias independentes, incluindo a vencedora do Festival de Cenas Curtas deste ano, para falar sobre as tensões entre dois seres.

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Foto: Divulgação

Bruno e Marino, “Fotógrafo e poeta”, integram a cena zero da montagem que reúne sete histórias independentes (exibidas conforme box abaixo), todas ambientadas num mesmo quarto de hotel, com cerca de um metro quadrado, num dia chuvoso e em cuja área estão dois negros cavalos. Vencedora da edição de 2016 do Festival de Cenas Curtas, a esquete com o reencontro do casal simboliza as angústias e delírios próprios de uma dualidade quando exposta às tensões. “Nossa intenção é retratar a relação entre as pessoas. Não partimos de um caso específico, mas falamos da dualidade própria dos seres humanos”, comenta Quiossa, que assina a direção ao lado de Felipe Moratori, responsável, ainda, pela dramaturgia. “O número dois foi o nosso norte. Tinha essa ideia de trabalhar o ator nessa sutileza, nessa relação a dois, de onde parte o conflito fundamental. Em nossa concepção de drama, o conflito vem de uma reação ao outro”, pontua Moratori. “Há sempre uma necessidade de descobrir o que está entre. Nada ali é a vontade de um, mas sempre o que surgiu entre dois, seja concordando ou discordando”, completa o dramaturgo, que concebeu o texto como cenas vividas por relações distintas, mas numa mesma situação.

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Sempre acompanhado Resultado do projeto “Entre duas (in)tensões”, iniciado em março deste ano, com patrocínio da Lei Murilo Mendes, o espetáculo desdobra as pesquisas que se basearam, inicialmente, na dualidade entre corpo e palavra. Enquanto a poeta, professora e estudiosa juiz-forana Carolina Barreto trabalhou com os mais de dez atores o peso da palavra, o ator e pesquisador carioca Massuel Bernardi ajudou-lhes a investigar as “brechas” do corpo. O corpo e a palavra falam. Dualidade que é palco e é coxia no teatro. “A gente nunca está sozinho, o teatro prescinde do outro. E isso é honesto no trabalho. Não faço teatro sozinho”, assinala Moratori em seu compromisso com o que a cena de hoje tem a ofertar.

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