Insegurança ronda as passarelas


Por Marcos Araújo

08/11/2016 às 07h00- Atualizada 08/11/2016 às 09h45

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Menino com idade entre 5 e 6 anos se arrisca ao lado de uma mulher para atravessar a linha férrea, no Bairro Industrial, na Zona Norte (Foto: Marcelo Ribeiro)

Um menino com idade entre 5 e 6 anos rente à linha do trem. Ele ignora o perigo, mas a mulher que seria a responsável pela criança também parece desconhecer os riscos. Ela passou o garoto entre uma grade que foi alargada e, cerca de cinco minutos depois, conseguiu atravessar a barreira também. Ao longo desse tempo, a criança ficou sozinha na linha férrea. Foram quase cinco minutos, tempo curto, mas suficiente para uma tragédia. A situação foi flagrada pela Tribuna sob a passarela para pedestres que liga o Bairro Industrial, na Zona Norte, ao Bairro Francisco Bernardino. Assim como a mulher e o menino, muitas outras pessoas evitam usar as passarelas motivadas pela pressa ou pelo medo de assaltos e outros crimes. Este tipo de situação é comum em diversos trechos dos cerca de 40 quilômetros de ferrovia que cortam Juiz de Fora e se coloca como desafio para a MRS, concessionária que opera o setor na cidade. A empresa alerta: as passarelas devem ser usadas para retirar o pedestre do nível dos trilhos e não apenas quando há a passagem de uma composição. Conforme os moradores no entorno dessas estruturas, os casos de roubos e a presença de pessoas utilizando drogas são frequentes. A insegurança veio à tona depois que um aposentado, de 66 anos, saiu de casa para comprar pão e foi atingido por um tiro fatal na cabeça, por volta das 9h, no final do mês de outubro. O corpo foi encontrado entre os trilhos e uma passarela, no Ponte Preta, Zona Norte. O latrocínio, na principal entrada do bairro, deixou os moradores chocados.

Outra questão levantada pelos usuários tem a ver com a dimensão das passarelas. Segundo eles, por serem longas, acabam contribuindo para a ocorrência de assaltos. Até a pressa faz as pessoas evitarem as passarelas, que buscam outras alternativas para atravessar os trilhos, usando aberturas nas vedações de concreto e nas grades. A balconista Marlene Gomes, 31, trabalha no Bairro Industrial e precisa atravessar a linha férrea para pegar o ônibus para casa, na Avenida JK. Ela afirma que já não usa mais a passarela. “Preciso passar por ali por volta das 5h30 e acabo utilizando as aberturas. A estrutura é muito longa. Já encontrei com suspeitos quando passava por ela. Um já estava lá em cima, enquanto o outro subiu depois de mim. Eles queriam me encurralar, mas desconfiei e corri.” No dia 25 de outubro, a PM registrou um roubo nessa passarela, quando uma jovem, 19, foi assaltada por uma dupla. Segundo a vítima, por volta das 23h, após descer do coletivo na Avenida JK e seguir pela estrutura, foi abordada por dois homens. Com o uso de força física, eles agarraram a moça, reviraram sua bolsa e roubaram o celular.

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Crack

Durante três dias, a Tribuna percorreu trechos ao longo da linha férrea e constatou diversas aberturas em muros e grades dando acesso aos trilhos, além de flagrar pessoas se arriscando, ora pulando o gradil, ora caminhando pelos trilhos. Em três pontos: na passarela, perto do Moinho Vera Cruz, no Bairro Industrial; em frente à antiga Facit, no Barbosa Lage; e na passarela do Mariano Procópio, que dá acesso à Rua Dom Lasagna; havia indícios de usuários de crack. Nesse último ponto, recentemente, uma mulher, 45, foi roubada enquanto atravessava a passarela. O caso foi registrado pela Polícia Militar, por volta das 13h30. Ela relatou aos policiais que o homem a abordou, simulando estar armado. Ele roubou R$ 15 e o celular da vítima.

Oito estruturas receberam iluminação

No que diz respeito à segurança, a assessoria de comunicação da MRS Logística afirma que a ação direta só pode ser exercida pelas autoridades públicas de segurança, uma vez que, por questões éticas, legais e técnicas, a empresa não tem poder de polícia, mas, em casos críticos, aciona as autoridades responsáveis.

Com relação aos equipamentos de segurança, a empresa afirmou que, desde janeiro de 2012, foram construídas oito passarelas na cidade, um investimento de R$ 13 milhões. Ao todo são 14 estruturas, e oito já receberam iluminação (Ponte Preta, Jóquei I, Jóquei II, Benfica, Nova Era, Mariano Procópio, Santa Amália e Fábrica). “Das oito, uma já foi vandalizada e teve a iluminação prejudicada. Isso é uma realidade para nós, pois acontece com a vedação, que tem por objetivo impedir o acesso à via, já que a própria comunidade abre o buraco no muro. As pessoas entendem que a passarela só serve para ser usada quando há a passagem de trem, mas, na verdade, deve ser usada sempre, pois sua meta é retirar o pedestre do nível da linha férrea “, ressalta o gerente geral de Comunicação da MRS, Marcelo Kanhan.

Sobre a dimensão das passarelas, a concessionária explica que as mais novas são mais longas para cumprir exigências das normas técnicas, incluindo as mais recentes, de acessibilidade, que garantem o acesso de cadeirantes e idosos. Por isso, as rampas não podem ser muito acentuadas. Há uma definição sobre a inclinação máxima de 8,33% nas normas NBR 9050/2004 e NBR14021/2005, ambas da ABNT. “Construímos as passarelas dentro da lei, com rampas para acesso de cadeirantes, mas há pessoas que se aproveitam para atravessar a estrutura de moto, cavalo, resultando em reclamações de sujeira e riscos de atropelamento. Esse tipo de situação abre brecha para insegurança e acidentes”, pontua Marcelo.

Ferrovia como rota de fuga de suspeitos

O gerente geral de Comunicação da MRS, Marcelo Kanhan, defende que a presença da passarela não muda a situação de insegurança no que diz respeito a assaltos.

“Poderia ser uma travessia no nível da rua que os assaltos iriam continuar acontecendo, pois as forças policiais não têm como estar nesses locais o tempo todo. Só na área central de Juiz de Fora são cerca de nove quilômetros de ferrovia. Hoje os assaltos acontecem com maior frequência no Centro e na Zona Norte, que são áreas com concentração de atividade criminosa independentemente da existência das passarelas. A ferrovia acaba sendo procurada, porque tem trechos longos com rotas de fugas, trechos de difícil acesso para as autoridades policiais, principalmente no Centro.”

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Faixa de domínio

Ainda segundo a MRS, neste ano, foi criada a Gerência Geral de Faixa de Domínio e Interferências, uma área voltada para ações como a prevenção de acidentes, limpeza da faixa de domínio da ferrovia e manutenção de estruturas (vedação e passagens em nível, por exemplo).

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