Ser juiz-forano é…


Por Júlia Pessôa

30/09/2016 às 07h00- Atualizada 30/09/2016 às 08h54

Dependendo da época em que você se mudou para JF ou nasceu na cidade, talvez nem saiba o quanto é vênas saber o que é vênas, que seria algo muito legal, bacana, incrível. É muito “paia” – ruim, chato, sem graça – que a palavra tão peculiar tenha caído em desuso. Além destes significados, paia também pode ser uma coisa malfeita, de qualidade duvidosa. Por fim, “jagodes” é algo quase inexplicável, uma maravilhosa pérola do vocabulário juiz-forano: é aquele cara sem traquejo social, que não se encaixa, por vezes um pouco bobo e passível de também ser um tanto tímido. Explicar é difícil, peça a um conhecido para apontar um jagodes e você entenderá e “dará pala” – morrerá de rir. Também é preciso saber que academia tem pronúncia própria: “acadimia”, às vezes até com a supressão do primeiro “a”.

Comer pipoca com queijinho no Centro

Foto: Felipe Couri
Foto: Felipe Couri

Um dos sabores que são marca registrada da cidade. Para quem sempre quis saber, o queijinho frito pode ser provolone ou parmesão, a gente perguntou para ter certeza. Embora até dê pára achar a iguaria em outros cantos, a pipoca-com-queijinho é coisa séria para quem é de Juiz de Fora, praticamente um patrimônio imaterial da cidade e motivo de saudades para quem já não vive aqui. Prova disto é que bem no coração da cidade, no Parque Halfeld e no Calçadão, os carrinhos têm longas filas de gente esperando uma saquinho de pipocas para chamar de seu.

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Marcar encontro no “pirulito”

pirulito

Não se sabe o por quê, mas o relógio do Parque Halfeld, bem no Centro, daqueles grandes, normalmente com anúncio de algum patrocinador e que também marca a temperatura, ficou assim apelidado; “Pirulito”. Embora haja inúmeros outros relógios iguaizinhos a ele, a alcunha ficou somente com o que marca as horas no coração da cidade e acabou virando ponto de encontro, sobretudo de estudantes universitários. Piada recorrente é marcar um encontro com alguém recém-chegado a JF no local, só para ver como o forasteiro se sai com a referência.

Saber que a cidade tem anônimos ilustres

Foto: Fernando Priamo
Foto: Fernando Priamo

Não se deixa enganar: aqui, a palavra “anônimos” vem como contrário de “celebridades” e o glamour que o termo carrega, mas de forma alguma como o oposto de “famosos”. Diversos personagens do cotidiano de Juiz de Fora ajudam a fazer da cidade o que ela é e acabam fazendo parte do dia a dia de quem vive por aqui. Quem não se lembra dos já finados Dona Maria do Calçadão e seu Antônio Macário cantando – cada um a seu modo – e compondo parte da trilha sonora do Centro? Vai dizer que nunca esbarrou com o Mamute em um coquetel ou ficou atônito com os músculos do Maizena? Passando na Halfeld, com certeza já viu alguém auxiliando Sebastião Cecio Ferreira, que não tem os braços? Nos barzinhos, comprar Paçoca – ou agora, chiclete – do Anderson “Paçoquinha” é um clássico. Levar fora da vendedora de buchinhas de cabelo ao recusar comprá-las já assustou muita gente nos pontos de ônibus e calçadas do centro. JF é cheia de personagens, que tornam sua história ainda mais bonita e interessante. (Ficou curioso? Na coluna “Outras ideias” apresentamos vários destes queridos personagens, confere lá!)

Comer e disseminar o torresmo do Bigode

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Embora haja outros fortíssimos concorrentes em termos de qualidade e gostosura, o torresmo do Bar do Bigode, que tem mais de 50 anos de funcionamento, é o mais lembrado de Juiz de Fora. Autointitulado o melhor do Brasil – chancela que os juiz-foranos e turistas legitimam -, o torresmo vem em porções de tira e de ponta (mais carnuda, com o exterior crocante), e o sucesso fez o bar expandir para mais que o dobro de seu tamanho nos últimos anos, chegando a adquirir um outro estabelecimento, em frente a ele (calma, que lá também se pode pedir o torresmo). Os mais visionários garantem que chegará o dia em que os proprietários adquirirão todos os estabelecimentos da Rua Dr. Romualdo. Brincadeiras à parte, a dobradinha torresmo do Bigode com cerveja gelada é imbatível na identidade do juiz-forano (e um presente para os turistas que levamos lá).

Tomar caçulinha com salgado na Fábrica de Doces Brasil

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Para nascidos, criados e adotados por Juiz de Fora, é blasfêmia não degustar uma das dobradinhas mais clássicas da cidade. Além de deliciosos, os salgadinhos da Brasil têm um preço superbacana, assim como o Guaraná Caçulinha, então a iguaria é um clássico democrático, cabendo no bolso até dos estudantes mais duros da cidade. Dá pra comer sozinho, pedindo um salgadão individual ou dividir com a galera, pedindo por peso uma porção de salgadinhos menores. Mas não abra mão do caçulinha. Respeite os clássicos.

Torcer para o Tupi

Foto: Marcelo Ribeiro
Foto: Marcelo Ribeiro

Não importa se você segue a tradição local e torce para algum time carioca, quem é de Juiz de Fora é Tupi e pronto. Prova recente do amor pelo Galo Carijó foi a mobilização da população em prol da subida do time para a série B em 2015. Bares cheios, bandeiras, camisas e mesmo uma gigantesca transmissão do jogo da decisão contra o ASA de Arapiraca na Praça Antônio Carlos, com centenas de pessoas, marcaram a chegada do time à segunda divisão. A chegada dos jogadores teve direito a recepção com centenas de torcedores, carreata e buzinaço – para não mencionar os que seguiram o time até a final em Alagoas. Em JF, não fale o sagrado nome do Galo Carijó em vão. É sagrado.

Ir à feira ver quinquilharias e comer pastel

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Pensar em feira e lembrar-se de legumes, verduras, frutas e flores é comum e é possível encontrar todos estes na feira da Avenida Brasil aos domingos. Mas em uma das margens do Rio, além dos produtos que vão para a cozinha, é possível achar todo o tipo de bugiganga, de roupas usadas e móveis a telefones velhos, abajures que não funcionam, placas de carro, estruturas de ferro, extintas fichas telefônicas e outros artefatos que a gente custa a acreditar que estão à venda – e são vendidos! A Feira da Brasil é um programa clássico de domingo, todo mundo que vive ou passa por aqui deveria ter a experiência de vê-la pulsando e aproveitar para comer um pastelzão quentinho com caldo de cana.

Comer hambúrguer saindo da noitada

Foto: Fernando Priamo
Foto: Fernando Priamo

Embora a tradição não seja exatamente juiz-forana, quem vive por aqui sabe que o rango pós-noitada é sagrado, prova disto é a quantidade de casas de hambúrguer que existem na cidade, dos mais gourmet aos mais podrões, e que ficam abertos durante a madrugada. Só na Avenida Itamar Franco, em São Mateus, há um pequeno circuito de hamburguerias e lanchonetes que atendem à fome no caminho entre a balada e a cama. Este hamburgão lindo aí da foto é de uma casa pioneira dos lanches da madruga, que os especialistas na gastronomia do alvorecer certamente reconhecerão.

Passar férias em Cabo Frio

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Não adianta negar. Todo juiz-forano que se preze já teve como destino de férias, feriados e afins a simpática cidade da Região dos Lagos. Era como ir a um distrito de Juiz de Fora, sobretudo em alta temporada, como férias de janeiro, carnaval e semana santa: trombar com um conhecido à beira-mar era fato consumado. Sobretudo pra garotada, isto era bom por um lado, porque você podia esbarrar no (hoje assim chamado) ‘crush e’, de repente, curtir um romance à beira-mar; ou topar com um desafeto, que poderia fazer o dia mais ensolarado ter nuvens pesadas.

Concorda? Não concorda? Faltou algum detalhe? O que é ser juizforano para você? Envie sua opinião para dois@tribunademinas.com.br com o título “Ser juiz-forano é”.

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