Questão de cuidado


Por Júlia Pessoa

04/09/2016 às 07h00

Preciso me cuidar. Fiz 31 anos há pouco tempo e, sim, reconheço que sou jovem para muitas coisas. Sou jovem demais para achar que “é tarde demais” para alguma coisa. Mas já não tenho idade para virar noite sem que me torne figurante de “The Walking Dead” no dia seguinte. Tampouco aguento maratona de programas em um dia só, ou vou no aniversário da fulana, ou vou na cervejinha com as amigas. Os dois não dá mais. Meu corpo, que por tantos anos sofreu com sapatilhas de ponta e alongamentos do balé, já não obedece a todas as ordens que meu teimoso cérebro envia. E meu joelho, que nunca foi bom, também não está lá essas coisas.

Mas sou nova o suficiente para nunca mais ser sedentária na vida. Para correr atrás dos meus sonhos, ainda que alguns possam soar tão pueris ou inalcançáveis. Sim, pretendo passar o resto da vida agindo esporadicamente como adolescente quando estou com as meninas. Ninguém mexe com as meninas. Posso até parecer uma senhorinha tentando mexer no Snapchat e sua interface tão pouco intuitiva para uma quem virou três décadas, mas sinto-me ridicula e deliciosamente garota brincando com filtros que me deixam com cara de cachorro, de Bambi, e mil outras possíveis caras.

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Tenho procurado manter este equilíbrio. Comido melhor, feito exercícios, tentado não ceder a impulsos de raiva ou um deboche maldoso. Às vezes, falho. Como, às vezes, ainda perco a hora, como nos tempos de colégio, e ainda perco o limite, querendo ser a última a ir embora da festa – literal ou metafórica. Mas tenho procurado, em geral, me cuidar, que é cada vez mais essencial. Esta semana perdi uma amiga querida, da mesma idade que eu, 31 anos. Muito nova pra ser assassinada tão brutalmente, quando ainda havia tanto a conhecermos sobre ela. Sei que um dia nos veremos novamente, mas nada poderá aplacar a pungente falta que esta jovem fará. Por isso, preciso me cuidar, e descansar faz parte do processo. Entro de férias, e, daqui a um mês, estou de volta. No meio tempo, cuidem-se. Quero perder mais ninguém. Ainda não sei se viajo, mas já sugeriram Cuba repetidas vezes. Aceito passagens.

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