Opinião


Por Renato Salles

02/09/2016 às 07h00- Atualizada 02/09/2016 às 07h52

Argemiro é daqueles que gostam de uma discussão. Ama futebol. Não deixa de acompanhar uma partida sequer do Mengão. No entanto, bater-boca é seu esporte preferido. Não dá o braço a torcer. Discute até com a imagem e fala mais que Galvão Bueno. Por tudo isso, e diante da impaciência dos colegas, pode-se dizer que ele não perde uma. Mas, apesar de tudo, Miro – como é chamado pelos amigos – é boa praça.

Toda quinta-feira, meio-dia e dezessete, Miro foge do serviço. Troca o almoço pelo bar do Ivan Boca de Comadre. Pede uma pinga e mais outra. Amarela! Depois de dois tragos, começa a palitar os dentes e palpitar sobre tudo. Futebol e política são seus temas prediletos. Empolgado com a boa fase de seu Rubro-Negro, Miro anda arrotando arrogância. “Tem cheiro de hepta”, diz, desconsiderando as argumentações de amigos de que o campeonato ainda está embolado.

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Ontem, Miro repetiu seu ritual. Boteco. Uma pinga. Amarela! Outra. Amarela! Palito na boca. Palpite na ponta da língua. “E esse papo de golpe, hein?” Ivan Boca de Comadre apenas observa de canto de olho. “Isso é choro de derrotado. Chola mais, corruptos!”, falou em tom de deboche, de olho no telejornal que se apertava entre duas barras pretas na TV 14 polegadas.

“É ou não é?”, disparou a pergunta mais temida por Ivan. “Não sei, Miro. Não tive tempo para acompanhar esse julgamento”, esquivou-se o taciturno dono boteco. “Nem eu”, respondeu Miro. “Não tenho tempo para essas bobagens”, finalizou, antes de voltar levemente embriagado e cheio de opinião, para cumprir o segundo turno de trabalho na banca de jogo do bicho da esquina.

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