Memória indelével
O registro mental ainda é bastante confuso. Só me recordo de ter vivido um “carrossel de emoções”, como diria o bordão do futebol virtual do amigo Chico Brinati. Não se passou sequer uma semana e minha memória tem dificuldade em remontar tudo o que aconteceu naqueles 120 minutos e dez penalidades. As imagens ressurgem caóticas. Foi no sábado passado, mais ainda parece um sonho. Tudo fora de ordem.
Só me lembro que eu estava lá. Eufórico, em uma cidade que, por ora, era a capital do planeta. Me lembro das filas. Da arquibancada lotada. Dos gritos empolgados. Da cerveja quente em um copo estilizado.
Um apito me trouxe brevemente de volta à realidade. Brevemente. Quando a bola rolou, tudo voltou a parecer um sonho. Os segundos andavam de forma descompassada, o que faz a memória falhar, e cada minuto me parece um quadro modernista na parede. Formas embaçadas que, sabe-se lá como, ainda me inflamam de uma angústia boa.
Só me lembro que eu estava lá. Não era um só. Eram 50 mil. Uníssono às margens plácidas. Lembro de uma bola parada ganhando movimento em 24 quadros por segundo. Até tocar a trave. Tocar a rede. Tocar o coração. Neste momento, todos se abraçaram antes de o sonho voltar a ser a eternidade de um pesadelo em sete a um.
O relógio parou na marca da cal. O tempo não passava. Eu estava lá. Ansioso. Gol para lá. Gol para cá. Uma defesa de um outrora desconhecido precedeu o êxito do anjo torto. Uma luz forte invadiu o sonho. Cor de OURO em caixa alta. Acordei sobressaltado. Eufórico. Embriagado de emoção. Disseram que eu estive no Maracanã no sábado passado. Ainda não sei se foi sonho. Como disse, o registro mental ainda é bastante confuso.