Múltiplo Murilo dramatizado


Por Tribuna

18/08/2016 às 07h00- Atualizada 18/08/2016 às 08h42

Martha Sirimarco e José Antônio Mendes levam para o teatro a prosa e poesia do artista juiz-forano

Martha Sirimarco e José Antônio Mendes levam para o teatro a prosa e poesia do artista juiz-forano

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Uma vida foi pouco para Murilo Mendes, mas mesmo assim ele fez muito. A obra literária do poeta e escritor nascido em Juiz de Fora há 115 anos passeou pelos mais diversos caminhos, do modernismo ao concretismo, passando pela fase em que se converteu ao catolicismo, suas dores com os horrores da Segunda Guerra Mundial, as lembranças das cidades de suas Minas Gerais e tantas outras questões que permearam a alma deste homem de tantas palavras. E é este Murilo múltiplo e incomum que é revisto no espetáculo teatral “Murilo Mendes – O poeta cósmico”, que será apresentado nesta quinta-feira, às 20h, no museu que leva o seu nome, o Mamm.

Apresentada pela primeira vez na cidade, a peça é uma realização da Companhia Teatral Curare, de Cabo Frio, que tem entre seus integrantes dois juiz-foranos radicados há bons anos na cidade fluminense: o ator e diretor José Antônio Mendes e a atriz Martha Sirimarco. Eles são acompanhados no palco pelo trio de músicos Delvan Rocha, Celso Thebaldi e Charlie da Matta, que executam composições de Mozart, Guerra-Peixe e cantigas do folclore popular, além de músicas criadas exclusivamente para o espetáculo.

De acordo com José Antônio, a ideia do espetáculo surgiu ainda por volta do ano 2000, às vésperas da comemoração do centenário de nascimento de Murilo Mendes, que foi adiada devido a outra celebração ocorrida na época: os 500 anos do descobrimento do Brasil, que rendeu o espetáculo “Travessia”, com dramatizações de textos brasileiros, português e africanos a partir do século XVI, com músicas criadas nos períodos abordados. Outros projetos surgiram com o tempo, como os dedicados a Adélia Prado e Garcia Lorca, entre outros, o que fez com que “Murilo Mendes – O poeta cósmico” estreasse apenas em outubro de 2015, em Cabo Frio.

Com o longo período entre ideia e execução, os integrantes da companhia tiveram muito tempo para pesquisar a obra de Murilo e escolher o que entrou para o espetáculo. “Nós trabalhamos com poesia, mas não é um sarau poético”, adianta José Antônio. “Transformamos a poesia em um texto dramático, uma operação que requer muito cuidado, de manter a delicadeza da poesia e ainda contar uma história. É como se fosse um auto sacramental, em que tentamos desvelar as faces do artista. Esta foi nossa principal inquietação.”

Ainda que já tenham passado por experiências semelhantes com outras peças, José destaca que sempre se corre o risco de se perder no meio da estrada da adaptação. “A poesia te dá uma liberdade muito grande, de criar uma história como você quiser. Não é fácil traduzir o poema para a linguagem teatral, isso exige o cuidado de preservar a poesia e a mensagem que o poeta quer passar. Buscamos isso com imaginação e coragem, pois a poesia não tem limites, é um caminho aberto em que você corre o risco de se perder. É preciso ir costurando, fazer o pacto que existe no campo das possibilidades entre o teatro e a poesia.”

 

Um olhar ‘cósmico’ sobre o mundo

Ao ser questionado sobre o título da peça, José Antônio Mendes explica que ele surgiu a partir da necessidade de, ao se contar uma história em que a poesia é o alicerce, encontrar o(s) ponto(s) para alavancá-la. “Pensamos: ‘quais os fatos importantes da vida do Murilo?’. Então alicerçamos a história em três fatos importantes de sua vida: a passagem do Cometa Halley, quando ele fugiu pra assistir a uma apresentação do (bailarino russo) Nijisnki, e a sua relação com a música de Mozart. A parte do cometa acho fundamental, pois acredito que desde então ele passou a escrever com a visão de quem está no cometa, daí o ‘poeta cósmico’. Ele é universal, cósmico, metafísico, mas também materialista. Ele é tudo isso e muito mais”, diz o ator e diretor, para quem Murilo Mendes tem a mesma importância para o Brasil que Fernando Pessoa teve para Portugal quando se fala de modernismo.

Para José Antônio, Murilo Mendes sempre esteve presente na sua vida, mas mesmo assim o trabalho para a criação do espetáculo criou novas percepções e sentimentos em relação à obra do artista mineiro. “Estou com 53 anos, a idade do auge dele. Sou ator desde a adolescência, interpretei muitos personagens, mas encontrar Murilo dessa forma tão forte, tão pessoal, foi um momento muito importante da minha vida. Gosto muito do texto e da palavra e poder estar neste momento interpretando Murilo e divulgando a palavra dele é um grande privilégio.”

MURILO MENDES

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O POETA CÓSMICO

Nesta quinta-feira, às 20h

Mamm

(Rua Benjamin Constant 790)

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