Muito além de Machu Picchu


Por Elizangela Amorim

17/12/2014 às 07h00- Atualizada 02/02/2016 às 12h16

Arquivo Pessoal
Paloma no sítio arqueológico Huaca Pucllana, em Lima

Quando digo que estive no Peru, a primeira pergunta que me fazem é: “Você foi a Machu Picchu?”. Diante da negativa, seguem as lamentações: “Que pena!”, “Que ruim!”, e até mesmo uma indagação urgente: “Por quê?!”. Porque eu fui a um congresso em Lima e não teve como dar uma escapada às ruínas que atraem tantos turistas e são o sonho de consumo de muitos. Não que isso seja motivo de frustração.
Lima possui atrativos para dar e vender – neste caso, em Novo Sol. A moeda local, cuja cotação é próxima à do Real, é bem mal-amada por alguns setores, como nas corridas de táxi. Isso porque, além dos preços baixíssimos para grandes distâncias, quando comparados às tarifas de Juiz de Fora, a negociação ocorre antes de entrarmos no veículo. Em um bom portunhol-inglesado: “Quanto le custa para nós irmos hasta la PUC Peru?”. “Diez soles”, responde o hermano taxista. “Ah, no, yesterday los otros pagamos oito”. “Está bien, siete e vamos”. É aí que começa a aventura. Você não paga sete soles apenas para uma simples corrida. É corrida sim, mas muito maluca.
O trânsito é caótico, e os taxistas são tresloucados. Eu rezava para chegar com vida ao destino. E não é que chegava? Arrumei um anjo da guarda peruano, com chollo (lê-se: chapéu tipicamente peruano, que protege as orelhas do frio, como o utilizado pelo Chaves, personagem do falecido mexicano Bolaños) e cachecol de baby alpaca (filho da alpaca, que é prima da lhama).
É claro que Lima tem seus atrativos turísticos, como o lindíssimo Circuito Mágico das Águas e o bonitão Larcomar, um shopping construído de frente para o Pacífico. A culinária é, no mínimo intrigante: o milho-verde de lá é mais desbotado e maior; o famoso ceviche agradou a muitos, mas não a mim. Não deixe de comer o pollo (mas não os “Hermanos”, da série Breaking Bad, por favor). O prato, espécie de frango frito, é tão típico que até o McDonalds se orgulha de tê-lo em seu cardápio de almoço. É o hibridismo cultural na massificação gastronômica do fast food.
Muito além dos postais, o bacana mesmo é isso: andar pelas ruas, tentar conversar com o taxista-piloto, respirar o ar e olhar o céu cinzento de Lima, resultado de uma névoa que o cobre devido à maresia, dizem. É por isso, segundo um guia, que as casas são pintadas de cores fortes, evitando a depressão cinzenta imposta pela natureza. E lá quase nunca chove. Tem gente que morre e não vê uma chuva de verdade. Daí, as casas não têm telhados nem as ruas têm bueiro. Bom que não há entupimento!
Por tudo isso, Lima é uma cidade para qual pretendo voltar um dia. E aí, quem sabe, darei um pulinho a Machu Picchu.

Jornalista e mestranda em comunicação e identidades da UFJF

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