Apertando os cintos que o crédito sumiu

Por Tribuna

16/12/2014 às 07h00 - Atualizada 06/01/2015 às 17h10

Em todo o território brasileiro, o comércio varejista deve sofrer com a conjuntura econômica desfavorável neste final de ano. A economia brasileira deve encerrar 2014 com um crescimento pífio de 0,3%, inflação em 6,3% e desemprego (aberto) em 5,5%, conforme divulgado pelo FMI. A demanda real das famílias por compras a prazo apresenta desaceleração, não somente em virtude da inflação alta, mas principalmente devido à redução das concessões de crédito e comprometimento do décimo terceiro salário com o endividamento gerado em períodos anteriores. Conforme dados de concessões de recursos direcionados do Bacen, que correspondem ao somatório das novas operações de crédito, o microcrédito destinado ao consumo registrou R$ 15 milhões em outubro de 2014, um decréscimo de nada menos que 83% em relação ao nível aprovado em 2013. Além dessa redução, observa-se um aumento de 14,2% no índice geral de inadimplência no acumulado do ano até outubro, conforme divulgado pelo Serasa Experian. Em relação ao mês anterior, tal índice avançou 19,6%. Apesar disso, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) apontou para uma redução de 4% na parcela dos brasileiros endividados em novembro de 2014, quando comparada a 2013, um evidente reflexo da contração que já vem sendo vivenciada pelas famílias.

O Dieese projeta um crescimento de 10,1% no valor agregado da gratificação de Natal (décimo terceiro salário) em relação ao ano passado, o que seria capaz de injetar cerca de R$ 158 bilhões na economia brasileira. No ano de 2013, essa injeção de dinheiro provocou um aumento de 27% no volume de vendas do comércio varejista no mês de dezembro, segundo dados do IBGE, proporcionado, principalmente, pelo avanço nos setores de tecidos e vestuário (83%); artigos domésticos (52%) e artigos de papelaria (50%). Para esse ano, entretanto, os resultados da pesquisa sinalizam que o comércio varejista apresenta crescimento modesto de 1,0% no volume de vendas e de 1,3% na receita nominal em outubro, ambas em relação ao mês anterior. O crescimento de 4% da massa de rendimento no mês é uma das razões para o aumento, que, entretanto, é mais que contrabalançado pelo desemprego na indústria. A mesma pesquisa revela que o total do pessoal ocupado assalariado na indústria registrou um decréscimo de 0,4% frente a setembro, a sétima taxa negativa consecutiva, acumulando perda de 3,9% no ano. Na comparação com outubro de 2013, o emprego industrial registrou queda de 4,4%. Conjuntamente, esses fatores devem afetar negativamente o desempenho do comércio varejista, já bastante prejudicado pela retração do consumo a prazo, que possivelmente não deve alcançar os resultados dos anos anteriores, como aponta pesquisa da Fundação Getúlio Vargas.

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Segundo uma pesquisa da Associação Comercial de São Paulo, os consumidores costumam utilizar a primeira parcela do décimo terceiro, que sai até o dia 30 de novembro de cada ano, na quitação das dívidas e destinam a segunda parcela para as compras de Natal e férias. Considerando as perspectivas de arrocho fiscal para 2015, recomenda-se que o salário extra seja utilizado para pagar as dívidas, principalmente as de maiores taxas de juros, como as do cheque especial e dos cartões de crédito, que podem chegar a até 12% ao mês dependendo do banco. A utilização do cartão de crédito, em outubro deste ano, alcançou a marca de R$ 88,36 bilhões, 14,6% superior a outubro de 2013, considerando tanto compras à vista quanto parceladas. Mas recomenda-se cautela com o uso do cartão. Em tempos de vacas magras, o melhor a fazer é apertar os cintos.

Por Admir Betarelli, Adam Rocha e Guilherme Cardoso
Email para: cmcjr.ufjf@gmail.com

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