A grama do vizinho é mais verde?

Por Conjuntura e Mercados Consultoria Jr.

13/07/2016 às 15h59 - Atualizada 13/07/2016 às 15h59

Em momentos de crise como o que passa a economia brasileira, com empresas locais apresentando balanços insatisfatórios e resultados negativos na bolsa, uma alternativa de investimento que ganha destaque são os BDRs (Brazilian Depositary Recipts), recibos (ou ‘espelhos’) de ações de empresas estrangeiras (a maioria americanas) negociadas na bolsa brasileira. Essa opção de investimento vem atraindo o interesse dos investidores brasileiros. Em junho, enquanto o índice Bovespa registrava uma queda de 4,32% na movimentação financeira de suas empresas, passando de R$ 166,80 bilhões em maio para R$ 159,58 bilhões no último mês, os BDRs registraram um aumento de 33,02% no volume financeiro negociado, passando de R$ 451,53 milhões em maio para R$ 614,05 milhões em junho. Em que pese a ordem de grandeza (de bilhões para milhões), a tendência é o que chama atenção.

Os BDRs em geral são ofertados por bancos brasileiros, que servem de intermediários entre as empresas estrangeiras e os investidores residentes no Brasil. Nessa modalidade de investimento todos os processos burocráticos ficam a cargo das instituições depositárias das ações originais, o que faz dos BDRs uma opção mais cômoda em relação à negociação direta das ações nas bolsas norte-americanas, além de evitarem a criação de uma conta em corretoras estrangeiras pelos investidores locais. Atualmente, existem dois tipos de BDRs negociados no Brasil: os patrocinados, em que as próprias empresas tomam a iniciativa de negociar ‘espelhos’ de suas ações em outras bolsas, e os não patrocinados, em que instituições financeiras brasileiras trazem essas ações para o mercado local na forma de recibos. Há também duas formas de comprar BDRs: negociando por meio dos principais bancos que operam o ativo no Brasil, como Bradesco, Citibank, Deutsche Bank ou Itaú Unibanco, sendo eles os responsáveis por disponibilizar todas as demonstrações financeiras necessárias e obrigatórias aos órgãos reguladores, assim como manter a comunicação entre a companhia emissora e os investidores; ou investir diretamente como pessoa física ou jurídica, com valor mínimo de R$ 1 milhão neste caso. Em geral, essa opção é destinada a grandes investidores, como fundos de investimento, investidores qualificados ou as próprias instituições financeiras.

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Segundo dados da empresa Economática, atualmente existem 104 empresas estrangeiras com recibos de ações negociados na Bovespa. Nos últimos cinco anos, a empresa que mais pagou dividendos em relação ao preço de sua ação (dividend yield) foi a AT&T, com um valor médio do indicador de 5,60% e cerca de R$ 778 milhões movimentados no segundo trimestre de 2016 na bolsa brasileira. Logo depois vem a Verizon Comm, com uma média de 4,83% de dividend yield e R$ 654 milhões negociados e a Lockheed Martin, companhia do setor industrial de equipamentos aeroespaciais, com um dividend yield médio de 4,65% e R$ 242 milhões negociados. Enquanto isso, no Brasil, a empresa de telecomunicações que obteve a maior média no indicador foi a Telefônica Brasil, com dividend yield de 19,29% e volume de R$ 23 milhões no segundo semestre de 2016; no setor industrial, a Embraer registrou um dividend yiel de 3,88% e um volume de negociações de R$ 2.476 milhões no semestre.

Apesar de atraentes, há riscos envolvendo os BDRs, entre eles a perda de valor de mercado das companhias americanas e a oscilação no câmbio. Entre dezembro de junho, a Apple enfrentou variação negativa de US$ 51 bilhões (ou 8,7%) em seu valor de mercado, a maior neste ano entre os BDRs. As estimativas de vendas de seu iPhone foram reduzidas com base na fraca demanda pelos modelos 6S e 6S Plus, saturados em mercados já desenvolvidos. Já a empresa que mais ganhou valor de mercado na lista de BDRs foi o Facebook, com uma variação positiva estimada em US$ 44 bilhões. Os resultados do Facebook foram melhores do que o esperado em 2015, com um crescimento dos lucros graças às vendas de publicidade e aumento do número de usuários. Além de todo o acompanhamento do emissor que deve ser feito, como qualquer investimento exige, ainda é necessária atenção especial à flutuação cambial. Mesmo que a compra seja efetuada em reais, a ação original é cotada em dólar, ou seja, o preço lá pode até não sofrer variação, mas, se o dólar se desvalorizar frente ao real, o título também perde valor. Em situações de instabilidade econômica como a que vivenciamos atualmente, comprar ações estrangeiras que respondem a forças econômicas vigentes em outros mercados é uma alternativa. Mas o risco ainda estará lá, não importa quão verde esteja a grama do vizinho.

Por Idala Carolina, Bruno Perry e Vinícius Versiani. Email para: cmcjr.ufjf@gmail.com

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Luciane Faquini

Luciane Faquini

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