Uma odisseia na terra dos Maxakalis – 1998


Por Roberto Fulgêncio

04/12/2014 às 13h42- Atualizada 04/12/2014 às 13h47

Uma odisseia na terra dos Maxakalis – 1998

Eram nossas últimas horas no Vale do Jequitinhonha, após dez dias de matéria, quando o trator vencia os derradeiros metros de pasto, carregando nosso veículo na última montanha acima. Não hesitei no clique que simbolizava a nossa persistência naquela reportagem. Na bagagem do nosso Gol não caberia o aprendizado que a repórter Daniela Arbex e eu adquirimos nesta pauta. Trator nenhum carregaria o peso da experiência, resultado daquela aventura ao encontro dos índios Maxakalis, no Nordeste de Minas Gerais.

PUBLICIDADE

01

Estradas precárias, falta de estrada, pontes cobertas de água, improvisos de ponte e muita lama foram o nosso percurso até a aldeia. A previsão de dez horas de viagem se transformou em dois dias devido às dificuldades do trajeto. Em um determinado momento,até uma junta de bois nos carregou. Nosso maior contratempo foi quando a água proveniente de uma represa levou parte do acesso pelo qual passaríamos de carro. Tive que improvisar pesadas madeiras para servirem de passagem ao nosso veículo. No final da tarde, quando chegávamos às proximidades do território Maxakali, fomos recebidos pelos índios correndo ao lado do carro, outros a cavalo, alguns atravessavam à nossa frente, a maioria crianças com os rostos pintados, um misto de curiosidade e alegria naqueles semblantes. Descobrimos ali que todo o esforço valeu a pena.

02

03

04

05

06

Na convivência com os índios, foi perceptível o quanto lutavam para manter sua cultura e seu território. Somente os homens da tribo falavam a língua portuguesa; as mulheres e as crianças conversavam no dialeto deles. Por outro lado, era claro o choque cultural: ofereciam artesanatos para comprarmos quase que num tom de insistência. A necessidade que tinham de dinheiro era evidente na pobreza do local, sem falar nos vícios que aprenderam e herdaram do “nosso mundo”. Num momento de confraternização, os Maxakalis pintaram nossos rostos. Percebi que meu tom de pele e o da repórter Daniela Arbex não diferiam da dos índios, ali despertei que estava ao encontro da essência do nosso povo, o autêntico Brasil na sua raiz.

07

O conteúdo continua após o anúncio

08

09

10

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.