Preciosidades de Araxá


Por EDUARDO ROCHA - AUTO PRESS

02/06/2016 às 07h00- Atualizada 02/06/2016 às 08h26

Foto: Eduardo Rocha/Carta Z Notícias
Foto: Eduardo Rocha/Carta Z Notícias

 

A ideia do que é um bom carro moderno evolui o tempo todo. E, curiosamente, o conceito do que é um bom automóvel antigo também muda. Isso ficou bem evidente na 22ª Edição do Brazil Classics Show, realizada entre os dias 26 e 28 de maio no Tauá Grande Hotel, na cidade mineira de Araxá. Além de modelos nem tão velhos assim já serem tratados como clássicos – alguns dos anos 1980 -, os próprios elementos que são levados em consideração na hora de se admirar um automóvel antigo estão mudando. Claro que continuam a ser valorizados o interior impecável, a pintura brilhante e os cromados ofuscando a vista. Mas o que vale mais atualmente é a originalidade do veículo. A pintura pode estar um pouco queimada, os cromados meio foscos e as forrações um pouco puídas, mas se são as que saíram de fábrica, a cotação do carro no mercado de antigos pode mais que dobrar.

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No evento mineiro, considerado o mais importante do país, estavam expostas preciosidades clássicas, como um impecavelmente restaurado Mercedes-Benz 300 SL Gullwing, de 1954 – de valor estimado acima de US$ 5 milhões. Ao lado, um Lancia Astura de 1937, abandonado por anos, virou uma grande atração. O estado bastante deteriorado do modelo faria com que ele, há pouco tempo, fosse completamente desenganado. A Mercedes-Benz, que patrocinou encontro bienal, aproveitou para enfatizar seus 60 anos no país ao exibir uma réplica do considerado “modelo primordial” da história do automóvel, o Benz Patent Motorwagen, de 1886, primeiro automóvel patenteado no mundo.

Duas áreas próximas à recepção do Grande Hotel foram reservadas aos modelos da marca. No evento, foram contabilizados pelo menos 300 carros clássicos e 30 deles eram Mercedes-Benz. Lá estavam ainda uma 300 SL roadster, de 1955, e um 300 D Adenauer, de 1957. O Adenauer é uma espécie de precursor do Classe S. Havia ainda o conversível Mercedes-Benz 280 SE 3.5, de 1971, um modelo raro – foram construídas pouco mais de 1.200 unidades com essa especificação. Um modelo semelhante acabou protagonizando o leilão que ocorreu no evento. Não pelo valor de venda, mas pela recusa de seu proprietário em aceitar um lance de R$ 1 milhão por ele – ela queria, no mínimo, R$ 1,3 milhão. No leilão, houve 70 lotes, mas apenas 30%, ou cerca de 20, foram arrematados durante o pregão.

Além da Mercedes, outras marcas “habitués” em encontros de automóveis antigos estavam numericamente bem representadas. Caso de Alfa Romeo, Cadillac, principalmente os Eldorado, Porsche, Ferrari, Ford e Romi-Iseta, consideradas por muitos como o primeiro automóvel produzido no Brasil. Mas quem despertou muita curiosidade foi um Porsche 356, modelo que ficou famoso no acidente que matou o ator James Dean. O Porsche exibia uma estética Rat Rod, gênero de reconstrução fora de padrão praticada nos Estados Unidos, que junta pedaços de vários carros antigos e enferrujados para criar um modelo inusitado. No caso, o 356 foi deixado na lata, com as marcas de solda expostas na carroceria, coberta apenas por uma camada de verniz para proteger.

Já uma dupla de um modelo histórico brasileiro, o Puma DKW de 1967, teve uma restauração mais ortodoxa. Os dois modelos foram adquiridos pela Hayabusa Garage de Campinas e foram totalmente recuperados. Os modelos foram encontrados com mecânica trocada e vários itens adaptados. Eles retornaram à mecânica original, um motor dois tempos e de três cilindros da DKW, e tiveram diversas peças fabricadas artesanalmente. Por fim, retomaram o visual da época e acabaram sendo contemplados com um prêmio pela dupla restauração. Mas o grande vencedor dessa espécie de Concurso de Elegância do Triângulo Mineiro foi um Lincoln K Coupé Le Baron V12 de 1936. Foi ele quem recebeu o Troféu Roberto Lee, que premia o automóvel mais representativo do Brazil Classics Show. Um dos modelos, ao lado de exemplares Parckard, Rolls-Royce e Bugatti, que simplesmente não tem preço.

PUMA DKW

Os dois exemplares restaurados foram encontrados em petição de miséria e consumiram aproximadamente dois anos para o completo restauro. Foram construídos cerca de 145 exemplares desta versão, com chassi e motor DKW 1.0 de dois tempos, três cilindros e refrigerado a água. Ele tinha uma potência de 60cv e torque de 9kgfm. Ainda em 1967, a mecânica e o chassi foram substituídos pelos do Karmann Ghia.

MERCEDES-BENZ 300 D ADENAUER

 

Foi o quarto modelo da série e recebeu o apelido de Adenauer em homenagem ao primeiro chanceler da Alemanha no pós-guerra, Konrad Adenauer, que teve seis modelos em sequência. O 300 D tinha versões sedã e conversível e trazia sob o capô um motor de 3.0 litros com seis cilindros em linha e 180cv. A ideia da marca era brigar com ele contra a Rolls-Royce no mercado de luxo.

MERCEDES-BENZ 300 SL GULLWING

O 300 SL foi criado para levantar o moral dos alemães no pós-guerra. Lançados em 1952, passaram a competir e acumular vitórias em corridas como Le Mans, Mille Miglia, Tour de France e Nürburgring. Em 1954, foi exibido no Salão de Nova York e teve 1.399 unidades produzidas, 29 delas em alumínio.

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LINCOLN K COUPÉ LE BARON V12

A Série K da Lincoln foi produzida entre os anos de 1930 e 1940. Em 1936, ano do exemplar exibido em Araxá, ele usava um motor 6.8 litros V12 com potência de 120cv. Além da configuração Coupé, a Série K tinha ainda um modelo Limousine para sete passageiros, um sedã e um conversível.

PORSCHE 356 1951

A linha 356 foi produzida entre 1948 e 1965. O modelo exposto, um Speedster, é um dos protótipos da série América, lançada em 1952, que passaria a ser feito em aço e numa escala maior. Até 1950, apenas 50 unidades em alumínio martelado haviam sido produzidas. Eles pesavam 830kg e recebiam motores de 1.1, 1.3 ou 1.5 litro, com potências entre 55 e 95cv. A máxima era de 140km/h para a versão menos potente e 170km/h na 1.5S. No total, foram produzidas 76 mil unidades do Porsche 356.

BENZ PATENT MOTORWAGEN

O modelo exposto em Araxá era uma das 100 réplicas produzidas pela Mercedes-Benz nas comemorações dos 100 anos da marca, nos anos 1980. E ela segue rigorosamente os conceitos tecnológicos da época. Como não havia carburador, a câmara de combustão era alimentada pela passagem do ar em um chumaço de fibras embebidas em combustível – normalmente éter. O resultado era um motor de 0,75cv que levava o Motorwagen a 16km/h.

MERCEDES-BENZ 280 SE 3.5 CONVERSÍVEL

A versão 280 SE com motor V8 de 3.5 litros foi criada no final de 1969 e saiu de produção em meados de 1971. O modelo dispõe de 200cv e tem velocidade máxima de 210km/h com câmbio manual. Foram produzidas apenas 1.232 unidades, quase todas destinadas ao mercado norte-americano.

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