Em evento no Planalto, Dilma pede ‘cautela’ após decisão de Maranhão
Diante de uma plateia inflamada que gritava incessantemente palavras de ordem “contra o golpe” e “aclamando” o presidente interino da Câmara, deputado Waldir Maranhão (PP-MA), por ter suspendido a sessão que aprovou a admissibilidade do impeachment, a presidente Dilma Rousseff, apesar de eufórica, pedia “cautela” e “calma” aos militantes que ocupavam o salão nobre do Palácio do Planalto, durante cerimônia de anúncio de criação de novas universidades.
“Não tenho essa informação oficial. Não sei as consequências. Por favor, tenham cautela. Nós temos uma conjuntura de manhas e artimanhas”, bradava Dilma, discursando, pedindo aos manifestantes que fizessem silêncio porque “não tinha garganta” porque “sua voz estava fraca”. Ao reiterar que não só a militância, mas também os parlamentares precisam ter “uma certa tranquilidade para lidar com isso”, a presidente advertiu que “as coisas não se resolvem assim e ainda vai ter muita luta, muita disputa”.
Em sua fala, a presidente Dilma voltou a sinalizar sua disposição de “lutar até o fim para defender a democracia”, além de “lutar contra o golpe e fazer o processo de enfrentamento”. Sob delírio de plateia, a presidente disse ainda que, “agora, mais do que nunca, temos que lutar por este processo irregular”. Dilma, que recebeu a notícias por vários avisos, inclusive do líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), comentou: “eu soube agora, da mesma forma que vocês. Apareceu nos celulares de todo mundo que um recurso foi aceito. E, portanto, o processo está suspenso”. A fala de Dilma provocou o delírio da plateia que gritava: “Uhu, Maranhão”. Dilma prosseguiu: “Não tenho esta informação oficial. E estou falando porque não podia, de maneira alguma, fingir que eu não estava sabendo da mesma coisa que vocês estão. Mas tenham cautela”. Em seguida, explicou que todos só iam “entender o que estava em curso, porque temos de compreender a situação”.
Na verdade, a notícia sobre a decisão de Maranhão chegou quando o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, discursava. O semblante de todos os ministros e assessores que estavam na cerimônia mudou e a presidente mostrou-se eufórica. Mercadante tentava prosseguir falando e pedia à plateia para que o deixasse terminar, praticamente em vão. Depois de defender as políticas de quotas para universidades e o exame de ensino médio para acessar as universidades, ele afirmou: “por isso a senhora não tem de sair deste governo e tem de continuar”.
Dilma, então, tentou começar seu discurso dizendo que “não ia fazer nominata (das autoridades presentes)”, “porque não tinha clima”. Daí, pedia silêncio e insistia: “daqui a pouco a gente grita juntos”. E passou a falar das cinco universidades que estava criando e dos novos cursos técnicos, sendo o tempo todo interrompida. Bem humorada, agradeceu a “plateia interativa” e passou a falar de golpe. “Tem golpe quente, que é com armas, e o golpe frio, que está em curso e usa argumentos aparentemente legais para derrubar uma presidente legitimamente eleita”, comentou a presidente, interrompida sob gritos “golpistas, golpistas”. Para a presidente, “este golpe tem uma fachada, que é o processo de impeachment sem base, sem legalidade”, que usa a justificativa das pedaladas “porque não tinham outro argumento”
Em seguida, a presidente fez uma espécie de jogral com os militantes, ao lembrar que ela está sendo acusada de ter assinado seis decretos, que são a base do processo de impeachment, ressalvando que um dos presidentes que a antecedeu, Fernando Henrique Cardoso, assinou 101 decretos, sendo 30 do mesmo tipo. “Eu estou sendo acusada de enriquecimento ilícito?”, perguntou a presidente, ouvindo a plateia responder: “não, porque não roubei”. “Não me acusaram por ter conta no exterior?” , indagou de novo. “Não, porque não tenho”. E em seguida, emendou: “não me acusam de usar dinheiro público porque não fiz isso”.
Neste momento, a presidente Dilma Rousseff está no Planalto, onde almoçou em companhia do advogado Geral da União, José Eduardo Cardozo, e dos ministros do gabinete pessoal da presidência, Jaques Wagner, e da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, avaliando a decisão da mesa da Câmara e do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, que suspendeu a sessão que admitiu a admissibilidade para abertura do impeachment.
O clima é de comemoração, mas com cautela. Na verdade, o governo não sabe o que pode acontecer daqui pra frente, nem o que a oposição irá fazer para derrubar este ato no Supremo Tribunal Federal (STF). Nessas conversas, a presidente e seus ministros discutem também se há mais algum ato que possa ser desencadeado pelo governo para garantir que a suspensão da sessão da Câmara que aprovou o início do processo de impeachment seja mantida.
O ministro Cardozo dará uma entrevista coletiva nesta tarde apresentando a posição do governo sobre o que aconteceu na Câmara. A presidente mantém a sua agenda e, neste momento, está recebendo o presidente do Parlamento do Mercosul, Jorge Taiana, e, às 17h, embarca para Goiânia para inaugurar o novo terminal de passageiros do Aeroporto de Santa Genoveva.