Na mira das Olimpíadas


Por GUSTAVO PENNA

08/11/2015 às 07h00

Juiz de Fora pode entrar no mapa do tiro esportivo olímpico. De olho na realização das Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, a cidade já se ofereceu para receber delegações estrangeiras na preparação para a modalidade. Uma investida que se aproveita da estrutura da sede campestre do Clube de Tiro Juiz de Fora, localizado na BR-040, próximo a Matias Barbosa, e que tem motivado a iniciação de novos praticantes do esporte na cidade.

“Vimos na Tribuna uma matéria sobre delegações que poderiam vir para Juiz de Fora. Então fizemos contato com a Prefeitura para oferecer nosso espaço”, diz Gustavo Sanabio, presidente do Clube de Tiro Juiz de Fora. “Temos uma máquina própria para a disputa da prova da fossa olímpica. São raros os clubes de tiro no Brasil que têm esse equipamento. Além do Rio de Janeiro, só vai ser achada em Belo Horizonte. Também temos uma pista ideal para o tiro com arco. Temos ótima infraestrutura, tanto no clube quanto na cidade. O problema é que os esportes de tiro são pouco difundidos no Brasil. Quando fomos apresentar nosso espaço para a Prefeitura, nem eles sabiam que em Juiz de Fora havia um clube.”

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Há alguns meses, as federações de Canadá e Bélgica já têm em mãos um dossiê sobre a infraestrutura oferecida pela cidade e pelo Clube de Tiro Juiz de Fora, como explica o secretário de esporte e lazer, Carlos Bonifácio. “Participamos de dois eventos: um workshop em Uberlândia e outro aqui na UFJF. O evento de Juiz de Fora contou com a presença de 24 países, e mostramos o que a cidade pode oferecer. Falamos com o ministro do Esporte (George Hilton) pedindo apoio, para que ele pudesse fazer contato com esses países. A nossa posição geográfica é muito interessante. São só 180km de distância do Rio de Janeiro”, afirma o secretário, que ainda aguarda por uma resposta oficial dos comitês olímpicos nacionais em relação ao tiro esportivo.

‘Ninguém pensa em atirar em alguém’

Enquanto Juiz de Fora não é confirmada como centro de treinamento para o tiro esportivo olímpico, a modalidade tem atraído praticantes. Nesse ano aconteceu a estreia da equipe do Clube de Tiro Juiz de Fora em grandes competições da modalidade. Já são 12 atletas filiados à Federação Mineira, e a expectativa para 2016 é de crescimento, até pela confirmação da cidade como uma das sedes do Campeonato Brasileiro de Tiro Esportivo, que ainda não tem data para acontecer.

“Juiz de Fora tem bons atletas no tiro esportivo. Há pessoas que gostam de atirar e nasceram para o negócio. Quando o cara chega ao clube, ele aprende todas as técnicas. É o treinamento que faz ficar bom. Qualquer pessoa com dedicação consegue crescer no esporte. Se o cara for dedicado, tem toda a condição de ser um atleta do tiro esportivo. É uma modalidade que precisa de paciência, dando 30 tiros em 35 minutos. Com certeza vamos ter uma participação muito maior no ano que vem”, diz Geraldo Delgado, coordenador da equipe do Clube Juiz de Fora.

Aos 55 anos, Delgado tem 35 anos dedicados ao Exército. Apesar da intimidade com o tiro, as competições esportivas só começaram para o capitão da reserva em 2010, na primeira edição que disputou do Campeonato Mineiro. Campeão estadual em 2011 e 2012, o atleta evita a associação entre armas e violência. “Não tem nada disso. As pessoas que frequentam o clube de tiro são maravilhosas. Ninguém pensa em atirar em alguém. Conseguir a licença para comprar armas no Brasil é uma dificuldade terrível. É tudo fiscalizado pelo Exército, tudo organizado.”

Esperando

É exatamente a dificuldade para se conseguir a licença para utilizar armas de fogo que tem afastado Danilo Weib das competições. Aos 35 anos, o protético deu os primeiros tiros com a carabina de pressão aos 12 anos ao lado do pai, no sítio da família, em Lima Duarte. “Já participei de competições entre os associados do Clube Juiz de Fora, mas tenho vontade de disputar competições maiores. Estou esperando meu certificado de registro para poder comprar as armas e munições, e sair para competir fora do clube. Deve acontecer até o próximo mês. Aí vai dar para pensar em participar nas competições do próximo ano. A modalidade para mim é um relaxamento. Gosto de ir lá para relaxar, praticar a concentração, precisão, o que, para o meu trabalho, é muito bom”, diz Weib.

Regulamentado pelo Exército

Mas a dificuldade para se conseguir a licença não deveria ser problema para aqueles que pretendem praticar o tiro esportivo. Ao menos é o que explica o presidente do clube, Gustavo Sanabio, que desvincula o Estatuto do Desarmamento, lei que regula a posse de armas por civis no Brasil, das regras que controlam e incentivam a modalidade.

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“Em relação ao esporte, não há nada que seja regulado pelo Estatuto do Desarmamento. O esporte tem uma regulamentação totalmente diferente, que é controlada pelo Exército. É burocrática, mas possível. Um civil normal, que tenha bons antecedentes, pode começar no tiro esportivo, adquirir sua arma e frequentar um clube de tiro sem nenhuma restrição em relação ao Estatuto do Desarmamento”, afirma Gustavo Sanabio. Ele crê, entretanto, que uma eventual alteração do Estatuto do Desarmamento facilitaria o primeiro contato para aqueles que são entusiastas do tiro recreativo, sem relação com a modalidade olímpica.

“As pessoas podem ter a necessidade de começar a praticar o tiro para saber como usar uma arma de fogo, não voltado para o tiro esportivo. Quem pratica o esporte tem garantido o acesso à arma. O Exército realmente fiscaliza se você está participando de competições esportivas e verifica a frequência. Se o atleta não estiver participando dos torneios, a licença é cassada”, finaliza Sanabio.

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