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Para o assessor da SAA, Dalton José Abud, a queda no preço da carne suína é mais acentuada e é atribuída à redução no consumo – em função do momento econômico – e à compra de ração com preço melhor, por conta da importação de cereais, como o milho. Sobre a carne bovina, os impactos da Operação Carne Fraca tanto no mercado nacional quanto internacional, com compradores deixando de adquirir o produto ou comprando em quantidades menores, levaram à queda no preço da arroba. Em maio, o custo da arroba de boi gordo recuou 4,63%, a queda mais significativa para esse mês desde 1998, considerando a série histórica do Indicador ESALQ/BM&FBovespa. As informações são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). As restrições internacionais também foram destacadas por ele, especialmente o recente veto dos Estados Unidos. “Há uma tendência de queda no preço da carne que já está sendo sentida nos mercados e açougues.” A expectativa, avalia Abud, é que a oferta continue maior que a procura, pressionando os preços para baixo.
O proprietário do Açougue Ki-Carne, Carlos Eduardo Mendes, identifica queda de 20% na procura, e a preferência pela carne suína ante a bovina, em função, principalmente, dos preços. Segundo ele, o quilo do pernil, por exemplo, está mais barato do que o da carne bovina de segunda, direcionando a escolha do consumidor. Em Juiz de Fora, o preço médio da primeira caiu 37,65% contra alta de 7,66% na segunda opção, em relação ao início do ano. Segundo Mendes, com a restrição do mercado externo, a tendência é aumentar a oferta no mercado interno, pressionando os preços para baixo. O gerente da Skina da Carne, Ocimar Gonçalves Moreira, estima que a queda na demanda chega a 30%. Segundo ele, a tendência de redução no preço médio deve estimular as compras, minimizando os prejuízos para o setor nesse período de entressafra.
Consumidor mantém hábito de pesquisa de preços e ofertas
A expectativa do presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, Domingos Frederico Netto, é que exista uma baixa ainda maior do preço da carne em Juiz de Fora. Segundo ele, em função da polêmica provocada pela Operação Carne Fraca, o abate reduziu consideravelmente. Segundo ele, o produtor já sente a queda de preços, que ainda não é percebida na mesma proporção pelo consumidor final.
Arroba bovina sofre forte desvalorização
Segundo pesquisadores do Cepea, a forte desvalorização da arroba bovina verificada em maio está atrelada à maior oferta de animais, devido à retomada da produção após a seca observada em 2013/2014, e à diminuição no abate de matrizes. A equipe ressalta, no entanto, que a queda de preços ainda foi limitada pelas chuvas, que se estenderam ao longo de maio. Isso porque, com o clima favorecendo as pastagens, muitos pecuaristas podem “segurar” seus animais no pasto.
Quanto à demanda, a avaliação é que a economia não tem apresentado sinais de recuperação suficientes a ponto de elevar o consumo, enquanto as exportações vêm registrando fortes quedas mensais. O volume embarcado de janeiro a maio deste ano está 10% inferior ao do mesmo período de 2016, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Empresário aposta no mercado chinês
Apesar da crise no mercado externo, o empresário Marcelo Detoni, gerente da Fripai Alimentos, que exporta há mais de um ano subprodutos como miúdos para Hong Kong, mantém confiança nos negócios e está de olho no consumidor chinês. Segundo ele, já foi formalizado o pedido para exportação de carne ao Ministério da Agricultura, mas, afirma, é necessário aguardar a chegada de uma missão ao país. “Não sabemos quando eles virão. O mercado ficou muito sem credibilidade.”
De acordo com Detoni, as exportações retraídas e a demanda tímida no mercado interno provocam uma retração fora de época que atinge, principalmente, o produtor, embora toda a cadeia seja impactada. “O preço da carne já caiu bastante. Tem uns 60 dias para cá que só cai.” Conforme o empresário, não há risco de escassez do alimento, ao contrário. Na sua avaliação, no mercado interno, os consumidores já perceberam que a carne produzida no país é de boa qualidade. O desafio, agora, é recuperar a confiança também fora do país.