Atualmente, receber o imunizante contra a Covid-19 pode ser considerado um dos maiores motivos de felicidade em tempos. A animação desse momento é tanta, que virou costume as pessoas publicarem fotos com seu cartão de vacina, confirmando que receberam as doses. No entanto, esse compartilhamento, que parece inofensivo, pode gerar inúmeros problemas, como clonagem de dados e criação de perfis falsos, que podem ser usados até para extorsão de familiares.
Isso porque, no cartão de vacinação, há dados sensíveis, como o nome completo, a unidade de saúde onde a dose foi recebida, a data da imunização, o lote utilizado e também qual foi o laboratório que desenvolveu a vacina, além da data de retorno para a segunda dose – caso não seja dose única.
Segundo o professor do Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Estácio e especialista em segurança da informação, Douglas Machado, a dica é: comemore sim, mas não poste foto do seu cartão de vacinação. O especialista explica que, devido à emoção do momento, é compreensível, por exemplo, chegar no trabalho, em casa ou em uma reunião de amigos com o cartão de vacinação em mãos. Entretanto, não é recomendável compartilhar esse documento nas mídias sociais, ou aplicativos de mensagens, onde esse registro fica lá, para sempre.
O especialista destaca que, dependendo do estado, o documento pode conter também número da identidade, CPF, data de nascimento, filiação, cadastro SUS e até o número do registro profissional de quem aplicou a vacina. “Basta uma informação, como nome completo ou identidade, para que um golpista se passe por outra pessoa em muitas situações”, comenta o professor. “Munido das informações sobre a sua vacina, fica ainda mais fácil entrar em contato com você se passando por um profissional de saúde ou do laboratório e pedir mais informações que ele eventualmente não tenha.” O professor ainda acrescenta que tais informações possivelmente serão usadas pelo golpista para que ele se passe por você, na aplicação de outros golpes.
Além disso, se o número de registro do profissional que aplicou a vacina for divulgado, ele mesmo pode se sentir lesado e pedir indenização. Já a data da vacinação pode ser associada a demais informações, como cronograma de grupos de risco, para que planos de saúde, seguradoras e bancos apliquem restrições.
Risco de criação de perfil falso
A advogada e professora do Curso de Direito da Estácio, Paula Assumpção, adverte que os dados básicos do indivíduo, como nome, filiação, data de nascimento e CPF, podem, por exemplo, dar acesso a chave do PIX, além de prontuários do sistema público, podendo gerar, por exemplo, um encarecimento do plano de saúde mensal, ao apurar, na publicação das redes sociais, que essa pessoa é portadora de alguma comorbidade não informada.
Já em relação aos problemas mais comuns, ela destaca a clonagem de dados e a criação de perfis falsos, que podem ser usados para contratação de serviços e movimentação financeira sem autorização. Em situações mais graves, a especialista cita a possibilidade de o golpista utilizar esses dados para enganar um familiar ou um amigo, pedindo dinheiro se fazendo passar pela pessoa. Paula reforça que as informações pessoais são muito valiosas. Isto porque, atualmente, todos os sistemas que são utilizados para realizar relações negociais, contratos, plano de saúde, passaporte e relações financeiras no geral filtram esses dados para montar um perfil.
Saiba quais dados pessoais você não deve divulgar publicamente na internet:
Documentos em geral (RG, CNH, CPF)
Nome completo de pais e filhos
Endereço completo
Dados bancários e financeiros
Se a chave do PIX for o CPF
Fotos de diplomas e contratos
Informações sobre a empresa em que você trabalha, como salário, cargo e endereço
Fotos, nome e escola em que os filhos estudam
Telefone
Fotos de passagens aéreas e ingressos para shows/filmes com QR Code