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Aiuruoca – gastronomia, natureza e misticismo

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Com pouco mais de seis mil habitantes, o nome da cidade deriva do tupi e significa “casa de papagaio”, através da junção das palavras aîuru (papagaio) e oka (casa). No ponto mais alto do município está o Pico do Papagaio, com mais de dois mil metros de altitude, na Serra de mesmo nome. A montanha recebeu este nome porque ali existiam bandos de papagaios do peito roxo que faziam seus ninhos próximo e até na própria montanha. Agora, um projeto de repovoamento está propiciando o avistamento da ave novamente. A topografia acidentada dá origem a mais de 85 cachoeiras, onde é possível criar trutas em águas geladas e inquietas.

(Confira a receita do prato de truta com shimeji harmonizado com a Cerveja Antuérpia no final da página)

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A Serra do Papagaio divide Aiuruoca em dois vales: Garcias e Matutu

O Pé na Estrada Antuérpia foi atraído por tais peixes de água doce, azeites puros, cogumelos rosa, cachaça premiada e queijos produzidos na cidade. E durante a viagem, acabamos conhecendo, também, uma comunidade que se preocupa em preservar a natureza, comer de forma sustentável e, muitas vezes, vegetariana, e viver sem stress. Há também um grupo de pessoas adeptas do Santo Daime, uma manifestação religiosa originária da região amazônica, que tem como base o uso sacramental de um chá chamado ayahuasca.

No Matutu, a natureza é exuberante

Vale do Matutu

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O Vale do Matutu é um povoado de Aiuruoca, a cerca de 20 quilômetros do Centro, com belíssimas pousadas e vários restaurantes. Na chegada do povoado, existe um casarão datado do início do século 20 e duas casas menores que reúnem artesanato e artigos produzidos pelos moradores do vale, além de produtos agrícolas. Há também uma escola frequentada pelas crianças e jovens do povoado do Matutu. Neste vale de natureza exuberante está localizado o Restaurante da Tia Iraci.

Casarão de 1904, no Matutu
Cooperativa do Matutu, onde a comunidade comercializa produtos agrícolas
Escola do Matutu
Caminho para se chegar no Restaurante Tia Araci

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Entrada do Restaurante Tia Iraci, com portão feito com candeia

Tia Iraci

Para chegar ao Restaurante da Tia Iraci, é preciso deixar o veículo estacionado próximo ao casarão milenar da Comunidade do Matutu e caminhar cerca de 900m por um trecho composto de pontes de madeira e trilhas, no meio da natureza. Muitos chegam de bicicleta e até a pé, para saborear o tempero da comida preparada no fogão à lenha, ou no forno de cupinzeiro e barro. Dona Iraci conta que abriu seu restaurante em tempo recorde: 3 dias (assista o vídeo).

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Caprichosa que só, Dona Iraci cuida dos detalhes com carinho: a água no filtro descansa aromatizada com capim limão, as panelas são fartas e as travessas bem arrumadas. Cortinas de renda nas janelas emolduram o trabalho da cozinheira e seus ajudantes no preparo de suco verde, mandioca frita, frango caipira, torresmo e o famoso arroz com açafrão. E, nos fins de semana, leva os produtos de sua lojinha (que funciona ao lado do restaurante) para uma banca na feirinha no Centro da cidade. Dona Iraci ainda encontra tempo para preparar manteiga clarificada, compotas, doce de leite e geleias. Tudo é produzido na horta da comunidade ou é criado em seu quintal, como as galinhas que ciscam soltas entre os clientes que almoçam sem pressa.

Dona Iraci mostra o forno de cumpinzeiro e barro, onde assa leitões e bolos.
Interior do forno de cumpinzeiro e barro

Candeeiro do Vale

Quando o sol começa a se pôr, as lâmpadas do Candeeiro do Vale se acendem para receber os clientes. Os quitutes e petiscos, além de pizzas, são servidos acompanhados por cervejas artesanais geladas, entre uma partida e outra de sinuca. Este é um bom momento para se misturar aos nativos e trocar uma prosa, enquanto a noite cai revelando o céu estrelado. Por conta da escassa iluminação pública, é comum as pessoas circularem à noite portando uma lanterna.

Fachada do Candeeiro do Vale Gastrobar à noite
A sinuca é diversão entre nativos e turistas
Bruno e Iara recebem com simpatia e bons petiscos

O gastrobar tem uma área externa gramada onde a galera se espalha para saborear os sanduíches preparados pela casa, com destaque para o X-Take, um sanduba com 80g de shitake grelhado, 50g de queijo derretido, pão caseiro de azeite, maionese verde da casa, legumes grelhados, cebola caramelizada e salada orgânica. Aceitamos a dica do chef e provamos a criação do casal Bruno e Iara, que recebe com extrema simpatia todos que chegam por lá.

X-Take, sanduíche carro chefe da casa, preparado com produtos locais

Shimeji Rosa

Muitos estabelecimentos de Aiuruoca oferecem cogumelos no cardápio, porque há bons fornecedores no município. Visitamos a propriedade do jovem casal Caio e Polyana, do Sítio Pé da Pedra, na subida para o Parque do Papagaio. Formados em engenharia, agronôma e florestal, respectivamente, resolveram deixar a cidade grande para se instalar no pé da montanha e produzir cogumelos comestíveis orgânicos.

Cogumelo Shimeji Branco
Cogumelo Shimeji Rosa
Cogumelos Shimeji Rosas e Brancos
Cogumelos Shimeji de tonalidades variadas e Shitake

Nas estufas, brotam shimejis com a cor do chapéu variando entre o branco ao cinza-escuro, mas sem diferença no sabor. No entanto, o destaque é para o Shimeji de cor rosa chamado por lá de Salmão Rosa e o shitake. O sítio produz para a Região do Sul de Minas, mas pretende conquistar o mercado juiz-forano e da Região Serrana do Rio de Janeiro.

O jovem casal Polyana e Caio recebe nossa equipe

Tiê

Outro produto de Aiuruoca que também faz bastante sucesso é a Cachaça Tiê. O nome presta uma homenagem ao pássaro sul-americano de plumagem vermelha e reconhecida beleza. Do plantio da cana ao engarrafamento da bebida, o produto é 100% aiuruocano. O corte da planta é feito manualmente, sem uso de fogo, para evitar que componentes indesejáveis surjam durante a fermentação. O mosto fermentado, resultado da etapa anterior, é colocado em alambique de cobre. Do total destilado, a cachaça armazenada em tonéis de inox dá origem a Tiê Prata e em tonéis de carvalho, se transformam em Tiê Ouro. Premiada nos Estados Unidos e em Berlim, na Alemanha, a Tiê guarda outros prêmios e medalhas também no Brasil.

A cachaça Tiê já conquistou vários prêmios no Brasil e exterior

O mosto fermentado é colocado em alambique de cobre

Azeite Olibi

O Brasil, e especialmente o Sul de Minas Gerais, está se tornando referência na produção de azeites. Visitamos a plantação do Azeite Olibi, que em Tupi-Guarani significa “óleo da terra”, a 1300 metros de altitude, em Aiuruoca. Extraído a frio de 13 mil hectares de olival, o azeite possui frescor, é frutado e levemente picante no final.

Entrada Azeite Olibi
O passeio pela propriedade do Azeite Olibi começa entre bambuzais
Oliveiras Olibi
Azeites e produtos artesanais Olibi

O proprietário dessas terras, Nélio Weiss, desde 1999, voltou a introduzir espécies de árvores nativas, promovendo o reflorestamento e protegendo nascentes nesse trecho da Serra da Mantiqueira. Depois vieram as aves, com projetos de soltura de pássaros silvestres e manutenção e cuidado de aves em extinção apreendidas pelo Ibama. Intrigado com o desaparecimento dos Papagaios de Peito Roxo que dão o nome a Aiuruoca, Nélio tornou-se guardião desta e outras espécies de aves. De tempos em tempos, promove a soltura de aves (ver vídeo abaixo) em sua propriedade que pode ser visitada aos sábados, com visita guiada às 10 horas.

Degustação do Azeite Olibi

Casal Garcia

Bem no alto da montanha, perto da entrada do Parque dos Papagaios, pende uma das quedas d´água mais famosas de Aiuruoca, a Cachoeira dos Garcias. Com cerca de 30 metros de queda livre de água cristalina, a cachoeira é formada pela junção de dois ribeirões, que dão origem ao Ribeirão do Papagaio que vai desaguar no Rio Aiuruoca. Onde cai a cachoeira, forma-se um tanque arredondado de 10 metros de diâmetro. Para visitá-la, é preciso estar com o check up dos joelhos em dia pois o trajeto é bem íngrime.

No local funciona o restaurante Casal Garcia, cuja especialidade é truta (ver vídeo abaixo). Em semana de feriado, o casal Renilda e Juninho costuma preparar 60 quilos do peixe entre pratos executivos e petiscos. Os clientes aparecerem para tomar banho de cachoeira, nadar na prainha formada no leito do ribeirão ou mesmo para apreciar a maravilhosa vista do local, a quase 2000 metros de altitude. Do deck, avista-se o mar de morros das Geraes. Depois do almoço, as redes espalhadas entre as árvores convidam para uma soneca.

Vista do Restaurante Casal Garcia
Redes, um convite ao descanso
Deck do Restaurante Casal Garcia

Um 4 X 4 é o carro ideal para rodar em Aiuruoca

Agradecimentos Especiais

. Elisângela Pereira e Nicolas Terra Paiva

. Dona Iraci – Restaurante Tia Iraci – Vale do Maquitu, s/n – Zona Rural, Aiuruoca – Tel: 35 99844-5212

. Bruno e Iara – Candeeiro do Vale Gastrobar – Estrada do Matutu, Aiuruoca – Tel: 35 99726-3395

. Caio e Polyana – Sítio Pé da Pedra – Tel: 35 99727-1987 // 35 99897-1988

. Cachaçaria Tiê – Rodovia Aiuruoca/Alagoa, Km 12 – Fazenda Guapiara – Tel: 11 4233-9696 http://www.cachacatie.com.br/

. Nélio Weiss – Olibi Azeites Artesanais – (35) 99983-0957 http://www.olibi.com.br/

. Renilda e Juninho – Casal Garcia Restaurante e Bar – Sítio Serra dos Garcia (ao lado da cachoeira) – (35) 99989-8355

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