Ano passado atendi duas crianças em meu consultório, uma de 5 e outra de 6 anos. A mais nova apresentava um corpo muito alegre, repleto de energia e capacidade, que gritava agitado e indisciplinado, que infringia regras – mesmo sabendo que não estava certo, mas para chamar atenção -, colocava os pés na mesa, mexia no telefone do consultório como se fosse seu brinquedo, espalhava peças… Estava sempre querendo me testar. Sua atitude impulsiva e seu corpo inquieto, sua dificuldade em ouvir, prestar atenção aos detalhes e se organizar no espaço eram constantemente observadas por todos, inclusive pela escola; falava em demasia, não tinha interesse pelas atividades formais da escola (só queria brincar) tampouco em relação às propostas pedagógicas, apesar de ser muito inteligente. Quando era oferecido algum jogo que exigia um encadeamento e coordenação de muitos elementos, por exemplo, esta criança conseguia manter a execução ordenada e uma atenção (sustentada) por longo tempo, de forma independente, sem a minha intervenção. Estas e outras manifestações deixaram evidentes que a questão a ser trabalhada com ela era em relação aos limites. Neste caso, a orientação envolveu diretamente os pais, para conscientização e percepção da dinâmica familiar com o planejamento e mudança de postura.
Ao mesmo tempo, como já mencionei, fiz a avaliação diagnóstica de uma criança de 6 anos, estudante do 1º ano do Ensino Fundamental, que apresentou características similares: inteligente, perspicaz, mas costumava interromper as atividades para me contar algo que havia lembrado ou para pegar outro brinquedo, não prestava atenção aos detalhes, tinha dificuldade de organizar o espaço físico durante as tarefas, manifestava corpo inquieto, agitado, falava em demasia, apresentava desinteresse pelas atividades escolares. Durante a aplicação dos jogos, percebi que se perdia na sequência, porque seu pensamento estava desordenado, parecia estar em “outro mundo”, distante, e quando “voltava”, precisava ajudá-lo a relembrar da proposta, para que pudesse prosseguir. Deixava as peças caírem constantemente, numa atitude estabanada, queria deduzir as regras antes de ouvi-las, demonstrando impaciência para esperar o tempo, perdia coisas com frequência e precisou de um acompanhamento individualizado na escola. Essa criança demonstrava uma desordem específica no seu desenvolvimento, mostrando dificuldade em sustentar a atenção, inibir impulsos e regular atividade motora nas situações da vida. Encaminhei a família a uma avaliação médica e o diagnóstico foi de TDAH.
Nesses dois casos utilizei dos mesmos recursos e intervenção docente e os resultados foram distintos.
Sugeri à família da criança diagnosticada com TDAH que iniciasse um trabalho específico visando à Modificabilidade Cognitiva, chamado Programa de Enriquecimento Instrumental – PEI.
Convidei uma especialista no PEI, Psicopedagoga e MBA em Saúde , para apresentar este recurso de intervenção tão apropriado nos casos de TDAH, Síndrome de Down, Déficit Intelectivo, Distúrbio de processamento (DPAC) e tantos outros.
Com a palavra, Ana Carolina Coronha Vieira:
“Certo dia recebi uma jovem que não sabia mais o que fazer para conseguir aprovação no vestibular. Já havia tentado de tudo e estava fazendo cursinho preparatório novamente; ela era dedicada e estudiosa, mas vinha tentando há mais de dois anos a aprovação e nada. Um especialista orientou-a sugerindo o Programa de Enriquecimento Instrumental – PEI – porque poderia auxiliá-la no alcance de seu objetivo. Pois bem, como o tempo (até a prova) era curto, tivemos que adaptar o programa às suas necessidades. Foi realizado um trabalho durante seis meses e, após esse período, ela fez a prova novamente e conseguiu aprovação em duas faculdades de Medicina. Muitos podem perguntar: qual o diferencial desse programa? A resposta é bem simples. A bagagem pedagógica que ela tinha não era suficiente, pois ainda precisavam ser trabalhadas as funções cognitivas referentes à organização do pensamento, definir o que era relevante e o irrelevante, a atenção alternada e sustentada, além da percepção e ampliação do campo mental. Esses fatores estimulados e, aliados ao estudo do conteúdo pedagógico, é que representa o grande segredo, a fórmula do sucesso. Um não funciona sem o outro, numa verdadeira relação de interdependência.
Atendo muitas crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH; algumas fazendo uso de medicação. Nesses casos, as principais queixas dos pais são a falta de atenção dos filhos diante das atividades, um comportamento muito impulsivo além de baixo rendimento na escola. O TDAH é caracterizado pelo manifestação de três sintomas: desatenção, impulsividade e hiperatividade. O PEI, Programa de Enriquecimento Instrumental, é um grande aliado no tratamento desses casos, já que permite que o indivíduo perceba o próprio comportamento, controle os impulsos, maneje melhor o tempo, organize os dados e informações de uma questão, considere o que é realmente relevante, melhore sua capacidade de análise buscando precisão e exatidão nos dados, aumente sua capacidade executiva e mude, pelo treinamento que as atividades do programa estimulam.
O Programa de Reabilitação Cognitiva (PEI) foi criado por um Psicólogo Romeno, que desenvolveu uma série de atividades/desafios que trabalham diversas operações mentais como identificação, diferenciação mental, comparação, classificação, codificação e decodificação, análise-síntese, inferência lógica e raciocínio analógico/hipotético/lógico. Este tipo de tratamento enfoca habilidades como: atenção, percepção, memória, velocidade de pensamento, habilidades de resolução de problemas, linguagem e automonitoramento.
O PEI é um programa inovador e atua na reabilitação das funções cognitivas deficientes desses indivíduos, proporcionando, assim, uma vida mais produtiva, com resultados que se estendem além do ambiente escolar, pois, quando falamos de educação, falamos principalmente de educação para a vida. Queremos que nossos filhos sejam bem sucedidos na escola, mas também na vida, no trabalho, nas relações sociais e principalmente consigo mesmos.”