Juiz de Fora cresceu ocupando de forma errada o espaço público. Praticamente não há regras e padrões e, mesmo havendo, tem pouca ou nenhuma serventia. O espraiamento da cidade se deu sem que se cumprissem as normas construtivas para o uso e a ocupação do solo. Ruas e calçadas fora dos padrões, estreitas, largas; proprietários que resolvem os problemas de sua propriedade utilizando o espaço público. Calçadas com fortes rampas, com degraus, barreiras para contenção de águas, intransitáveis, às vezes com meio metro de largura e com postes enterrados no meio da principal via do pedestre. Calçadas esburacadas, tomadas pelo mato. Exigência de recuos frontais nas obras novas e nas reformas, nas áreas mais nobres do Centro e no entorno da cidade, recuos que se prestam a estacionamentos, que, na maioria das vezes, expulsam os pedestres a enfrentarem o trânsito no meio do leito carroçável. Enfim, uma perigosa irresponsabilidade, que coloca em risco a vida do pedestre, e fica por isso mesmo.
Vivemos numa cidade onde o automóvel tem prioridade absoluta e nenhum político tem coragem de mexer nessa “caixa preta”. Uma cidade onde as autoridades não acreditam que podemos construir uma rede cicloviária em decorrência da topografia da cidade, muito embora saibamos que isso não ocorra mais, pois as bicicletas de hoje sobem rampas acentuadas sem problemas.
Uma cidade que amarga um transporte público ruim, de péssima qualidade, que não respeita horários, ônibus velhos, sucatas compradas de empresas de outras cidades, onde os veículos já não servem mais para a prestação de serviços, mas, para Juiz de Fora, são considerados semi-novos; quer dizer, calados nos acostumamos e aceitamos o restolho. Na cidade, a primeira e única licitação para o transporte público foi feita em 2016, uma licitação estranha, que teve por objetivo garantir a permanência das empresas que já nos prestavam serviços, diga-se de passagem, um sistema que funcionava até bem melhor do que o adotado na atualidade.
Quais foram as inovações do sistema após a licitação? Nenhuma. Uma licitação enganosa, e não era isso que a cidade esperava. Por que não optamos, por exemplo, pela troncalização, com a construção dos terminais previstos no projeto existente? Por que não colocamos em prática ou readequamos o que começou de forma capenga? A utilização de um só terminal, e sem pesquisas e simulações de desempenho, pode ter sido a causa desse grave erro. Em transporte e trânsito, não existem experiências, achismo, é preciso ter certeza do que se está fazendo. Conclusão: jogamos pelo ralo R$ 45 milhões, dinheiro do povo. Os confortáveis ônibus articulados com capacidade para 180 passageiros sumiram como que por encanto, vendidos abaixo do valor real para outro estado, e tudo ficou por isso mesmo, tudo em face à irresponsabilidade de um prefeito despreparado, que desmontou o sistema com uma canetada na calada da noite.
É absolutamente inadmissível permitir a circulação diária pela área central da cidade de mais de 650 ônibus. As áreas urbanas, segundo o famoso arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl, são para as pessoas, e não para veículos automotores.
Entra governo, sai governo, nada muda. São mais de 40 anos num permanente estado de estagnação. Somos uma cidade atrasada, completamente à margem da modernidade. Nenhum governante assume a responsabilidade de transformar Juiz de Fora, cuidar do que é necessário e de forma mais urgente, da mobilidade urbana, seriamente comprometida, muitas vezes, simplesmente, por falta de uma revisão do atual plano rodoviário urbano.
Temos um novo Governo. Até agora, não disse a que veio. Onde estão os projetos, blá, blá, blá! Disso já estamos cheios. Quais são as possíveis soluções para melhorar a mobilidade urbana? Quais projetos o Governo tem a oferecer à cidade para a implantação de um novo sistema de transporte público mais moderno, que ofereça qualidade, de tal forma que as pessoas possam aceitar trocar o automóvel pelo ônibus? No mundo inteiro, a meta é esta: reduzir o número de automóveis em circulação, priorizar o transporte público, utilizar veículos não motorizados e dotar as cidades de ciclovias e ciclofaixas, assim como estimular as pessoas para as pequenas caminhadas, para distâncias até oitocentos metros. Simples assim!
Esse espaço é para a livre circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões.
Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.