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Ainda bem que não é comigo… será?

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A maioria de nós está metralhando o ano de 2020, como se ele fosse um vilão que merecesse ser derrotado ao final da trama. Logicamente, em grande parte, trata-se de anedotas, visto que não podemos culpar uma marcação cronológica pelas tragédias atuais – e, de fato, uma quantidade considerável de eventos se espremeu num curto espaço de tempo. Outrossim, o calendário é inocente nessa…

Na verdade, se considerarmos apenas os últimos 20 anos, ou seja, do início do século XXI até a presente data, a quantidade de eventos de grande impacto é assustadora: ataques terroristas em 11 de setembro de 2001 (três mil mortes); tsunami na Indonésia em 2004 (300 mil mortes); furacão Katrina em 2005 (quase duas mil mortes); crise econômica de 2008; pandemia de H1N1 em 2009 (284 mil mortes); terremoto no Haiti em 2010 (300 mil mortos); terremoto e tsunami no Japão em 2011 (16 mil mortes); guerra do Afeganistão (2001); guerra do Iraque (2003); guerra da Síria (2011); fortes ondas de calor na Europa; enchentes e inundações cada vez mais intensas (quem se recorda dos deslizamentos na região serrana do Rio em 2011, com 917 mortes?); ataques terroristas em França, Espanha, Oriente Médio, Índia, África, Brasil, etc.; pandemia de Covid-19 (em curso); e, por último, a megaexplosão na zona portuária de Beirute, no Líbano, com centenas de mortos e milhares de feridos até o momento.

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Catástrofes como essas infelizmente continuarão a ocorrer, e, se considerarmos a linha do tempo histórica, com frequência cada vez maior em intervalos de tempo cada vez mais curtos. Não há o que fazer para deter furacões, terremotos e tsunamis (desastres naturais), e, mesmo nos eventos em que o homem possui condições para fazê-lo, parece não se importar em encontrar o antídoto.

Então, o que quero trazer à reflexão é o seguinte: será que a recorrência de eventos dessa estirpe tem cauterizado a nossa consciência e nos deixado indiferentes às tragédias humanitárias subsequentes? Será que, ao lermos ou ouvirmos as notícias, nosso pensamento (consciente ou não) é: “Ainda bem que não é comigo?”. É certo que, na maioria dos casos, não temos condições de contribuir com alguma ajuda efetiva, mas há de se refletir sobre o nível de compaixão que temos demonstrado diante dessas ocorrências. Para alguns de nós, essa reflexão só ocorre quando uma tragédia nos atinge diretamente (ou nem isso).

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Certamente, as coisas seriam bem piores se não existissem pessoas que demonstram compaixão consciente e prática. Em algum momento, pode ser que tenhamos a oportunidade de sermos resposta em algum evento que demande ação efetiva, e não há nada mais realizador que ajudar o próximo em situações onde tudo o que se precisa é de uma mão estendida. Então, que possamos lutar contra a indiferença que nossa alma tende a demonstrar diante da recorrência de flagelos que causam dor e sofrimento aos nossos semelhantes.

 

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