Existe uma estrutura que carregamos desde o começo da escravidão, além da estrutura do racismo. Seguimos um fluxo de prioridade da sociedade: primeiro, vêm os homens brancos; depois, as mulheres brancas e os homens negros e, por último, as mulheres negras. Para os negros, em geral, o racismo esmaga.
Não vou entrar na questão do homem negro, porque ele também tem suas lutas diárias, contra o mundo e contra si mesmo. Mas a trajetória da mulher negra brasileira é traçada pela solidão. E, na maioria das vezes, é pela falta da representatividade.
Costumam ser vistas como carne barata, a famosa mulata da cor do pecado. Sempre sexualizadas ou inferiorizadas. Com isso, a autoestima é afetada, e elas ficam mais vulneráveis a relacionamentos abusivos, por exemplo. Há o medo e a insegurança de ser trocada por outra qualquer mulher, e, se for por uma mulher branca, a dor é duplicada.
A mulher negra não é vista como alguém para ser amada. Talvez se for uma avó ou mãe, mas como amor da vida de alguém? Não. Ela é vista como forte, guerreira, batalhadora, mas não como mulher. Precisa provar constantemente que tem valor, que é inteligente, que tem algo a mais para apresentar além de seu corpo.
A solidão da mulher negra não está ligada somente às suas relações afetivas, há outros problemas que permeiam essa dor. Desde pequena, ela já vive com a ideia de que não se encaixa, que nunca vai ser um padrão de beleza, que nunca será aceita socialmente como algo belo, fazendo com que seu psicológico seja afetado e que ela entre em um ciclo de competição consigo e com outras mulheres.
Ela é moldada dentro de padrões impostos por pessoas que não fazem parte do que é ser uma mulher negra. Todos têm um palpite de como ela deve ser, mas ninguém sabe o que é ser ela. Use cabelo natural, alise seu cabelo, não pinte suas unhas, use essa cor… Ela pode ser tudo, menos quem ela quiser.
Silenciada pelas lutas, silenciada por outras dores, a mulher negra grita em silêncio. Existe uma grande porcentagem de mulheres presas, por motivos que não estão ligados a elas. E, com esse encarceramento, ela vai se tornando invisível, como se não fosse importante para ninguém.
Comemore a conquista de uma mulher negra, escute-a, enxergue-a, ajude-a. Ela já tem sua luta interna, não seja mais um peso ou um trauma em sua vida.
Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.