É do conhecimento nos meios populares e científicos o dito culturalmente arraigado de que “a saúde começa pela boca”. Se a saúde começa pela boca, a odontologia também, pelo seu mister, tem o compromisso de cuidar da boca e de seus anexos internos e externos. Esse grupo é responsável pelo início da digestão: dentes cortando e triturando alimentos em partes menores, língua absorvendo sabores, saliva lubrificando e diluindo a comida, além de iniciar a digestão de carboidratos de relativa complexidade.
A partir desse breve relato anátomo/fisiológico, se percebe a importância dos cirurgiões-dentistas como promotores da saúde e do bem-estar da sociedade como um todo. Tratar de um órgão tão importante do sistema digestório do corpo humano é revestido de grande responsabilidade e de profundos conhecimentos técnicos/científicos.
Relembrando o Papa Pio XII, destacamos a frase por ele proferida, através da qual homenageamos a laboriosa categoria profissional dos cirurgiões-dentistas, neste dia 25 de outubro, dedicado aos profissionais da odontologia, bem como ao Dia Nacional da Saúde Bucal: “A odontologia é uma profissão que requer daqueles que a exercem o senso estético de um artista, a destreza de um cirurgião, os conhecimentos de um médico e a paciência de um monge”.
As dedicações de dias especiais para homenagear profissionais, pessoas, entidades, etc. não devem ficar nesse único objetivo, mas, sim, motivar profundas e necessárias reflexões sobre problemas e desafios a serem avaliados e enfrentados.
Nesse contexto, a odontologia e, por consequência, os cirurgiões-dentistas não estão excluídos da feitura de análises e avaliações sobre o momento hodierno de crises econômica/sociais e o de maior e destacada gravidade: a mercantilização da profissão.
Por outro lado, devemos levar em consideração, pelos mesmos motivos acima citados, e reavaliar melhor a atuação crescente, nefasta e perniciosa aos interesses de toda a categoria odontológica dessas empresas operadoras e mercantilistas de planos odontológicos que oferecem planos de saúde bucal, empresariais, pessoais ou comunitários, transformando os cirurgiões-dentistas brasileiros submissos a tabelas de honorários aviltantes e indefesos diante de interesses de um selvagem mercado marcado pela ausência total de um estado forte e regulador.
Mais grave ainda é quando essas empresas operadoras de planos exploradores dos profissionais da odontologia encontram guarida, acolhimento e parceria com entidades que, sob o ponto de vista ético, deveriam livrar/defender a classe da exploração de empresários que fazem da promoção da saúde um comércio rentável e desumano.
O citado fato se faz mais presente com os profissionais recém-formados, com pouquíssima experiência, condenados à condição de presas fáceis de mercado peculiar, cujas regras têm sido impostas por esses grandes conglomerados e franquias odontológicas.
Nesse sentido, faz-se urgente uma atuação mais incisiva e coerente das entidades representativas da categoria – associações, sindicatos, conselhos regionais, conselho federal, cuja representatividade irá depender da união, da sustentação e do apoio recebidos por parte da própria classe de profissionais. Indo mais além, salientamos que essa coalizão de forças somente irá alcançar resultados significativos em uma etapa posterior, ou seja, quando essa luta extrapolar os limites e as fronteiras da categoria e inserir representação política com Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, Câmara Federal e Senado, para qual propósito será transformar nossas lutas e reivindicações em uma bandeira nacional e que seja capaz de envolver as demais forças da sociedade em benefício de todos. Os principais resultados dessa empreitada de médio e longo prazos será atender a uma população também marginalizada e impedida de usufruir serviços públicos de saúde de qualidade.
Assim, defendemos o direito de igualdade de direitos para todos: para a categoria cansada de ser explorada, notadamente em momentos adversos de economia mundial e interna, e para a população de uma maneira geral, com o objetivo de que todos possam exercer sua cidadania – plena e abundante em seus direitos cívicos.
Que neste 25 de outubro a nós consagrado possamos refletir sobre a possibilidade de levarmos a odontologia ao pedestal de destaque como promotora da saúde e do bem-estar da sociedade brasileira.
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