Escrevo aqui na Tribuna de Minas há 25 anos, e, em todos esses anos, o monsenhor Miguel Falabella apoiou meus artigos através de estimulantes telefonemas e e-mails. Ele foi um sacerdote ortodoxo, estudioso e fiel à sua missão cristã. Suas homilias eram sempre marcadas pelo equilíbrio, pelas suas ponderações, que sempre fazia com mansidão, sem provocar escândalos. Discreto e sábio, estava sempre ciente dos acontecimentos religiosos e civis. Era um bom confessor e um bom conselheiro. Sem dúvida, ele pertencia ao rebanho do Senhor, e aí lembro aqui das palavras de Cristo: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão” (João 10, 27-28).
Monsenhor Miguel Falabella faleceu no dia de São Clemente, e aí fico lembrando de uma brincadeira que ele sempre fazia quando encontrava meu pai, com quem cresceu e fez primeira comunhão na cidade de Mar de Espanha. Meu pai chamava-se Línio. Então, monsenhor exclamava: “Lino, Cleto, Clemente…”. No caso, ele se referia aos três primeiros papas que sucederam o apóstolo Pedro, escolhido por Cristo para guiar a Igreja (Mateus 16,18). Deve-se a esse Papa São Clemente a mais antiga oração da Igreja pela autoridade política, muito oportuna nesses tempos eleitorais. Essa oração do século I diz assim: “Concedei-lhes, Senhor, a saúde, a paz, a concórdia, a estabilidade, para que exerçam sem entraves a soberania que lhes concedestes. Sois vós, Mestre, rei celeste dos séculos, quem dá aos filhos dos homens glória, honra e poder sobre as coisas da terra. Dirigi, Senhor, seu conselho segundo o que é bom, segundo o que é agradável a vossos olhos, a fim de que, exercendo com piedade, na paz e mansidão, o poder que lhes destes, Vos encontrem propício” (São Clemente de Roma, Epistula ad Corinthios 61,1-2).
Do monsenhor Falabella fica um exemplo de retidão, de fidelidade e amor à Igreja, de bom pároco que por tantos anos governou a nossa Catedral Metropolitana, de bom amigo, que celebrou as Bodas de Ouro de meus pais, e de bom conselheiro. De acordo com a Arquidiocese, entre os títulos recebidos pelo presbítero estão o de Cidadão Honorário de Juiz de Fora, de onde também é considerado Cidadão Benemérito; Cidadão Honorário de Santa Rita de Ibitipoca; Mérito Comendador Henrique Guilherme Fernando Halfeld; Medalha da Inconfidência; Diploma de benemérito-amigo da Polícia Militar de Minas Gerais e Personalidade Cobra de Ouro da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB). Agora, monsenhor está na casa eterna do Pai, assim como prometeu o Senhor Jesus: “E os justos irão para a vida eterna” (Mateus 25,46).