Uma nova forma de punição vem ganhando força no tribunal das redes sociais: o cancelamento de pessoas. O fenômeno, que tem sua origem na “Cultura do Cancelamento”, vem sendo utilizado na internet para punir, excluir e, principalmente, cancelar pessoas públicas, que disseram coisas preconceituosas e ofensivas consideradas inaceitáveis na atualidade. A chamada cultura do cancelamento permite que a opinião pública se manifeste contra qualquer ato considerado inaceitável para os dias de hoje, como racismo, discriminação, preconceito, xenofobia, homofobia e abuso de poder. Porém, por outro lado, ela também oferece perigos que são característicos a qualquer ato de censura e exclusão, já que nem sempre é claro o limite entre o certo e o errado.
A maneira punitiva como funciona o cancelamento virtual de pessoas se assemelha à antiga forma relatada na história de apedrejamento ou linchamento. Aqueles que desejam repudiar algum tipo de comportamento conseguem participar de forma direta no ato de repreender e expressar raiva, ódio e outros sentimentos negativos. O cancelamento virtual, apesar de não ter consequências diretamente letais, como acontece no linchamento, acaba provocando a exclusão de uma determinada pessoa do convívio, pelo menos a nível virtual, acarretando, em muitos dos casos, consequências importantes. Dependendo com quem e em que circunstâncias isso acontece, quem sofre o cancelamento pode perder oportunidades de troca, visibilidade, contratos profissionais, patrocínios e, também, manchar sua imagem pública.
Nesse jogo de exclusão, tanto aquele que é repudiado como aquele que exerce o repúdio podem sofrer diversas consequências psíquicas preocupantes. O fato de se sentir excluído de forma tão rápida e por tantas pessoas ocasiona sentimentos de desamparo, depressão e, em alguns casos, pode despertar uma sede de vingança. A vítima do cancelamento pode se sentir injustiçada e, consequentemente, procurar a forma de “dar o troco”.
Ainda que consideremos que muitas das pessoas canceladas são merecedoras de serem banidas ou limitadas em relação à emissão de opiniões ou participações em grupos, não podemos esquecer que o objetivo mais importante desse tipo de ação deveria ser o seu efeito educador. E como educar alguém que é banido do grupo? A opinião pública pode, de forma devastadora e muito rápida, destruir a imagem de alguém inocente ou, até mesmo, contribuir para atos destrutivos e preocupantes, como suicídio, brigas e guerras entre grupos e expressões de ódio que inflamam e dividem os membros de um grupo ou sociedade. Esses perigos se tornam mais preocupantes no caso dos adolescentes, que representam uma população que domina a internet e que utiliza a cultura do cancelamento, sendo extremamente rígidos nas críticas sobre o que eles mesmos consideram certo ou errado.
É fundamental que pais e educadores procurem conversar com os adolescentes sobre todos esses riscos e tentem, sempre que possível, demonstrar que qualquer tipo de postura considerada condenável, ofensiva ou preconceituosa acaba tendo consequências incontroláveis que podem afetar drasticamente a vida de outra pessoa.
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