Por amor, Deus se fez homem! Retomando a expressão do Evangelho (“o Verbo se fez carne”: João 1, 14), a Igreja chama “Encarnação” o fato de Deus ter assumido uma natureza humana para realizar nela a nossa salvação e para ser nosso perene modelo de santidade. Sem perder sua natureza divina, Jesus Cristo assumiu a natureza humana. Em latim se diz: “Id quod fuit remansit, et quod non fuit assumpsit” = “Ele permaneceu o que era, assumiu o que não era”, canta a liturgia romana.
Em Jesus Cristo, Deus traz uma resposta definitiva às questões que o homem se faz acerca do sentido e do objetivo de sua vida. Assim, na manjedoura de Belém, encontramos a fonte da verdadeira felicidade, isto é, Deus. De fato, a autêntica felicidade só se consegue junto a Deus, pois “sem o Criador a criatura se esvai” (Concílio Vaticano II: GS, 36) e “só Deus satisfaz” (Sto. Tomás de Aquino). O Natal nos anuncia aquele que é “o caminho, a verdade e a vida” (João 14,6). “A verdade profunda, tanto a respeito de Deus como da salvação dos homens, manifesta-se-nos por esta revelação na pessoa de Cristo, que é simultaneamente o mediador e a plenitude de toda a revelação” (Concílio Vaticano II: DV, 2).
Contemplemos a gruta de Belém que nos revela o Deus Menino, pois o aspecto mais sublime da dignidade humana está na vocação do homem à comunhão com Deus. Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Cristo tem uma inteligência e uma vontade humanas em perfeito acordo e submissão à inteligência e vontade divinas, que Ele tem em comum com o Pai e o Espírito Santo.
A verdadeira felicidade prometida por Jesus passa pelas lutas, pelas renúncias, e não nasce da idolatria do prazer individual, tal como nos propõe a mentalidade hedonista e materialista que prevalece em muitos ambientes. Sabe-se o quanto a busca insaciável do prazer como ideal de vida (hedonismo) induz o homem a procurar a realização dos seus desejos a qualquer preço, perdendo de vista os fins superiores. Certa vez, o inesquecível Papa São João Paulo II pôde escrever assim: “Não é mal desejar uma vida melhor, mas é errado o estilo de vida que se presume ser melhor, quando ela é orientada ao ter e não ao ser, e deseja ter mais não para ser mais, mas para consumir a existência no prazer, visto como fim em si próprio. É necessário, por isso, esforçar-se por construir estilos de vida, nos quais a busca do verdadeiro, do belo e do bom, e a comunhão com os outros homens, em ordem ao crescimento comum, sejam os elementos que determinam as opções do consumo, da poupança e do investimento” (Encíclica “Centesimus annus” nº 36).
A fé cristã é um dom sobrenatural. Que Maria, Mãe de Deus, nos ilumine para que possamos ouvir a autêntica voz de Jesus Cristo que nos transmite a plenitude da revelação divina. Ninguém deve se sentir solitário no Natal em razão dessa pandemia ou de outros problemas, porque o Deus Menino que nasce em Belém é luz e alegria para todos, sobretudo para os oprimidos (Mateus 11,28). Que todos possam viver caminhando serenamente entre as coisas que passam, mas sempre abraçando as que não passam, “as coisas do alto”! (Epístola aos Colossenses, 3).
Desejamos a todos um santo e abençoado Natal!
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