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O grito silencioso

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A voz da causa feminista é um “grito silencioso”. Desde os primórdios da sociedade industrial moderna, quando as sufragistas lutavam pelo direito ao voto, já sofriam com o desdém da elite patriarcal. Após muita luta, finalmente conseguiram conquistar o que deveria ser um direito desde o princípio, mas que lhes foi tomado pelo patriarcado opressor, que fazia questão de impor o destino quase cultural de reprodução, criação e educação dos filhos.
Hoje, a luta feminista, embora diferente, é ainda muito igual no sentido em que o patriarcado impõe o que é ser uma mulher, indo na contramão da linha de pensamento moderno, altamente desconstrutivo, que desassocia padrões de gênero erroneamente impostos sobre profissões, interesses e afins, que antes eram rotulados como “coisa de homem” ou “coisa de mulher”.

Não bastasse o descaso com uma causa legítima, empresas se valem da luta feminista para promover produtos e lucrar, sem de fato adotar medidas que abracem a causa que defendem, como salários iguais para ambos os gêneros, melhores condições trabalhistas em caso de gravidez, entre outras.

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As celebridades são ouvidas diariamente, com suas centenas de casos de abusos sexuais, desrespeito, sexismo… O que inegavelmente é de grande importância, e não tinha a atenção devida até pouco tempo atrás. Porém, a maioria das vítimas é de classe média baixa, sem milhares de seguidores nas redes sociais, sem uma voz para ser ouvida, e sem o direito de gritar, por viver sob ameaça. Incapazes de clamar por socorro, resignam-se a sofrer silenciosamente. É necessário encontrar uma forma de dar voz, ou melhor, amplificar, esse grito silencioso que simplesmente não é ouvido, muitas vezes por causa de toda a conjuntura do problema.

Como fazer todas essas mulheres serem ouvidas, de forma segura? Reeducação? Moldar as futuras gerações para que respeitem ambos os gêneros e evitar que isso continue a acontecer no futuro? Tantas perguntas, tão poucas respostas, e o grito ainda ecoa por aí. Quem está disposto a ouvi-lo?

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O pior de tudo é quando o grito é ouvido, mas deslegitimado. “Mimimi”, “choradeira”, “frescura”. O quão egoísta é um indivíduo que se considera no direito de julgar a dor alheia? E o quão ainda mais egoístas são aqueles que acham bonito, e clicam no “like” ou “retuítam” para legitimar a narrativa sexista? Então, sim, é necessário gritar mais alto, onde e quando for possível. Escolas deveriam passar filmes sobre agressão no ambiente familiar, educar as crianças para que possam denunciar seus próprios pais em situações semelhantes e assim entenderem que não, não é normal que seu pai bata em sua mãe.

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