A informação de que a cidade de Juiz de Fora está sob baixo risco de contaminação pelo vírus pandêmico da Covid-19 causa espanto e preocupação. Em um país onde inexiste cultura de segurança e a população nem sequer sabe o que é risco, a notícia divulgada pela Prefeitura da cidade é perigosa e pode levar a um aumento significativo dos casos da doença.
Risco é conceituado como a possibilidade de ocorrência de um evento ou de uma situação indesejável. Em termos qualitativos, internacionalmente, separam-se cinco níveis de risco: altíssimo, alto, médio, baixo e baixíssimo. Os níveis altíssimo e alto, sem dúvida, são os mais preocupantes. O nível médio de risco já se configura como uma situação de alerta, exigindo prevenção de um possível evento negativo. Entretanto os níveis baixo e baixíssimo tendem a refletir uma situação de controle, na qual o evento, ou problema enfocado, não exige cuidados especiais.
Nossa cidade não está muito bem no quadro pandêmico atual. A taxa de letalidade do vírus está em 4,87% (dado da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais), sendo que a média do estado é de 2,9%. Lembro que essa taxa representa o número de mortes em relação às pessoas que apresentam a doença ativa. A vacinação completa na cidade (vacinados com duas doses ou dose única) está em torno de 20%, percentual considerado muito baixo (o ideal é em torno de 70% totalmente vacinados). O status de transmissão na cidade é classificado pela Organização Mundial da Saúde como “transmissão comunitária”, ou seja, o vírus está ativamente circulando na cidade.
A Prefeitura criou seu próprio programa, enfatizando retomada econômica. Isso é incoerente, pois a prioridade é a saúde e a vida dos cidadãos, e não a economia. Considero insuficientes e questionáveis os indicadores de risco adotados. Internacionalmente se usa uma matriz (triângulo) de risco, enfocando vulnerabilidade, exposição e perigo. Como vulnerabilidade se tem a poluição do ar, a temperatura média no inverno e a idade da população (nenhuma delas considerada pela Prefeitura); em exposição figura a população em várias atividades (a liberação de bares e esportes coletivos – considerados como superpropagadores – aumenta a preocupação); e como perigo leva-se em conta o índice de mobilidade das pessoas (não considerado pela Prefeitura, e de grande importância, já que propicia interações que geram difusão da pandemia), as condições de habitação (também não consideradas, mas problemáticas) e a cobertura da saúde. Esses fatores são então cruzados com os totais de casos de contaminação e de mortes e com a ocupação dos leitos de cuidado intensivo. Assim procedendo, o nível de risco atual atinge o patamar de médio a alto.
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