Recentemente, matérias divulgadas na imprensa relataram que os bancos comerciais estavam sistematicamente recusando ou dificultando a concessão de empréstimos para pequenas empresas em meio à pandemia. A primeira pergunta que acomete o leitor então é: por quê? Se os bancos obtêm lucro, e substanciais, no Brasil, justamente com os empréstimos que fazem, por que não emprestariam?
A chave para entender este comportamento está no próprio funcionamento dos bancos. Quando qualquer um de nós vai a uma instituição bancária e abre uma conta depositando dinheiro lá, estabelecemos um contrato com o banco, que passa a ser o fiel depositário deste valor.
Ou seja, quando precisar sacar o meu dinheiro, o banco tem que disponibilizar o recurso para este fim. Mas os bancos, efetivamente, não mantêm em reserva a totalidade desse dinheiro depositado, apenas uma fração é transformada em reserva. A outra parte, usualmente, é emprestada, e aí é que começamos a entender o comportamento do banco em tempos de crise.
Os bancos sabem que, em tempos normais, os clientes têm um padrão de comportamento e vão precisar de um determinado volume de dinheiro para suas transações. Assim, eles emprestam a parte que não está na reserva do dinheiro que depositamos lá, compondo os seus ativos. Em tempos normais, é sempre possível administrar esses ativos, e, eventualmente, se o banco necessitar de recursos, ele pode vender esses ativos para outros bancos em troca de moeda e fazer frente à demanda de dinheiro que os seus clientes têm.
Esta situação, no entanto, se complica em períodos de crise, como este que estamos vivendo. Neste momento de incerteza sem precedentes, os correntistas precisam justamente da garantia de que seus recursos estejam disponíveis. Ao mesmo tempo, com o impacto agudo da pandemia e a necessidade do isolamento social, a atividade econômica passa por uma queda sem precedentes. Logo, se o banco conceder crédito, pode terminar na seguinte situação: possui ativos que, em tempos normais, seriam muito razoáveis de serem transformados em moeda, mas agora não têm como serem vendidos e, ao mesmo tempo, os clientes querem a garantia de poderem utilizar os seus recursos que certamente vão precisar. Como o banco não pode entregar ao correntista o título de crédito no lugar do dinheiro – acordo estabelecido na hora do depósito antes da pandemia -, toma a decisão de ser muito criterioso na hora de emprestar. Resultado: ou cobra juros muito altos, ou exige muitas garantias, ou efetivamente não empresta!
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