Aprendemos, no decorrer dos tempos, que a simplicidade se resume a uma questão de aparência. Entendemos como simples os que se vestem sem muito cuidado, com um certo modo despojado de adereços ou capricho. Vemos simplicidade nas pessoas que se contentam com pouco, sem haver de nossa parte a intenção de pesquisar se há de fato contentamento ou impossibilidade. Alguns religiosos se apresentam com vestes que lembram a modéstia inigualável de seu precursor, e nos perguntamos: o hábito faz o monge? Vemos os pobres e abandonados vivendo em vielas e guetos esquecidos das autoridades administrativas e nos referimos a essa fatia da população como pessoas simples.
Depois de Jesus, o Cristo de Deus, o exemplo de simplicidade que pisou neste lado do mundo ocidental foi, sem dúvida, Francisco de Assis. Filho de nobre comerciante, dono de inúmeras propriedades, optou pela vida espiritual, deixando tudo e todos que significavam materialidade e apego. Quando se afastava, despedindo-se dos familiares, seu pai o interpelou dizendo que as vestes que o cobriam lhe foram dadas de presente. Francisco as tirou, deixando-as ao chão.
Francisco de Assis viu nos pássaros a beleza e a profundidade da mensagem de Deus, pois, mesmo tendo toda a imensidão dos céus para voar, são forçados a descer ao mais úmido ou estéril solo para, em meio à poeira e ao esterco dos pastos, colher as sementes e larvas que lhes servem de alimento.
Podemos ter todo o infinito, mas devemos sempre voltar às origens para não esquecermos que somos espíritos eternos em passageira condição terrena, na escola da vida, para realizarmos o nosso progresso.
Em sua mensagem “Bagatelas”, psicografada por Chico Xavier, Emmanuel nos ensina: “O século é fruto dos dias. O rio nasce da fonte oculta. A árvore procede do embrião. A linha é uma sucessão de pontos minúsculos. A jornada de cem léguas origina de um passo. O discurso mais nobre principia numa palavra. O livro inicia-se com uma letra. A mais bela sinfonia começa numa nota. A seda mais delicada é uma congregação de fios. De bagatelas é constituída a hora do homem. Todavia, sem que venhamos a executar os pequeninos deveres, quais se fossem grandes, jamais alcançaremos as grandes realizações, com a simplicidade que nos deve assinalar o caminho”.