O título dessa crônica é inspirado no Evangelho de Mateus, capítulo 22, versículos 16-22, e bem conhecido dos fiéis das agremiações religiosas cristãs.
Em termos contemporâneos, a malograda ação de levar a política de objeto material e terreno para dentro dos templos religiosos de lida imaterial e celestial está ao arrepio dos ensinamentos de Jesus Cristo. Explico: no ambiente político é fundamental que o cidadão tenha o pensamento crítico sobre a realidade, reflexivo sobre oportunidades de melhorá-la e o racional propositivo para implementá-las no domínio socioeconômico, indiretamente por meio do voto eletrônico aos seus candidatos.
Por sua vez, no ambiente religioso, mais especificamente dentro das instituições religiosas, o fiel deve se conduzir por resignação, contemplação e adoração ou obediência. No ambiente político, é necessário o debate das ideias, enquanto no religioso prima-se pela convergência de uma fé. Ou seja, são ambientes de naturezas distintas. Por isso, mais do que conspirar, a inserção do ambiente político dentro dos templos religiosos permite que um líder – independentemente de ser mal intencionado ou não – possa impor aos seus fiéis o seu desejo e, pior, os seus candidatos eleitorais como se fosse a voz de Deus. No limite mais grotesco, se um fiel não acompanhar a determinação desse eventual líder coercitivo, poderá ser expulso de sua agremiação religiosa ou, no mais perverso dos argumentos de temor, sentenciado sem defesa ao inferno.
Nesse contexto, é digno de reconhecimento a alvissareira nota da presidência da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) do dia 12 de outubro do corrente. Entre seus trechos destaco: “… a manipulação religiosa sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil… A CNBB condena, veementemente, o uso da religião por todo e qualquer candidato como ferramenta de sua campanha eleitoral”. A íntegra poderá ser obtida pelo leitor no site www.cnbb.org.br.
Creio no debate das ideias e no respeito entre as pessoas, pois é assim que nasce e cresce a “paz democrática”. Destarte, o posicionamento da presidência da CNBB é um significativo exemplo a ser seguido por todas as demais agremiações religiosas, especialmente aquelas que apregoam os princípios cristãos. Manter-se silente, principalmente num momento de escalada de falsos testemunhos e da exasperação da intolerância e do ódio, é sucumbir à tentação de dar a Cesar o que é do Senhor. Fiquem atentos aos falsos profetas!