Desde o impeachment da ex-presidente Dilma até o momento atual, os escândalos políticos ocorridos pelos casos de corrupção têm ocupado grande parte dos noticiários, causando perplexidade no cidadão brasileiro, que, por sua vez, tem se mantido apático. Curiosamente, o Congresso Nacional considerou crime as pedaladas fiscais, mas achou normal o atual presidente Temer encontrar-se na calada da noite com Joesley Batista e ainda concordar em calar o ex-deputado Eduardo Cunha com mesadas milionárias. A troco de quê?
Em setembro agora, Rodrigo Janot vai deixar o cargo de procurador-geral da República após apresentar intensas denúncias contra o alto escalão do Governo federal, bem como figurões da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Deu no que deu: por muito menos Delcídio foi preso e, por muito mais, Aécio Neves permaneceu solto e ainda teve de volta, como brinde, o seu cargo de senador. A lei serve para uns e para outros não?
A partir de setembro, teremos uma nova procuradora-geral da República: Raquel Dodge. Da lista tríplice encaminhada pelo Ministério Público, ela ficou em segundo lugar, mas foi a escolhida pelo Michel Temer. Lógico que tudo tem o seu preço, e, como não poderia deixar de ser, esta já se manifestou contrariamente à procuradoria-geral se intrometer em assuntos políticos, como fez o Rodrigo Janot. A troco de quê? Para piorar, já informou que pedirá para fazer, digamos assim, um recall das delações premiadas.
Infelizmente, sem sequer ter assumido o seu posto, Raquel Dodge se encontrou, fora da agenda, na calada da noite brasiliense, com o presidente Michel Temer. Por qual motivo a futura procuradora da República foi se encontrar às escondidas com o mandatário da nação? A troco de quê? Depois que a visita vazou, ela tentou contornar a situação, mas obviamente sua atitude põe em xeque sua independência e também a do Judiciário, diante do Executivo. Pior ainda foi ela informar que a visita ocorreu para organizar sua posse no Palácio do Planalto, a convite de Michel Temer. O argumento não colou e voltou no que disse, transferindo sua posse para as dependências da Procuradoria-Geral da República, pois, afinal de contas, a Casa pertence ao Judiciário, que ultimamente vem tirando o sono de muito político.
Resta agora ao Judiciário e aos seus membros tentar manter sua independência em relação ao Executivo e a Raquel Dodge, já questionada pelo Ministério Público por sua visita oculta, cumprir um mandato que atenda aos anseios do cidadão brasileiro, porque nós somos quem bancamos seu cargo e seus subsídios. Ela deve obediência ao seu verdadeiro patrão: o povo brasileiro, e não aos interesses escusos da classe política brasileira.