Em 2018, neste mesmo jornal, comentei brevemente o levantamento feito pela ClarivateAnalytics, empresa norte-americana, sobre a qualidade da ciência brasileira. O relatório deixava claro que, aqui, quase 100% das pesquisas, em diferentes áreas, eram feitas nas universidades públicas. Nesse cômputo, a participação de universidades e faculdades particulares era basicamente inexistente.
Passados dois anos desde então, eis que um amplo estudo recentemente publicado na prestigiosa revista científica PlosBiology (Loannidiset al, 2020) apontou quais seriam os cem mil cientistas mais influentes do mundo na atualidade. São diferentes pesquisadores pertencentes às mais diferentes áreas, nos mais diversos países, e, dentre eles, se destacaram nada menos do que 600 nomes brasileiros. Isso mesmo, nosso país conta hoje com centenas de professores e pesquisadores entre a nata científica mundial!
O que mais chama a atenção nisso tudo é que, novamente, a esmagadora maioria desses pesquisadores atua em instituições públicas (estaduais e federais). Quando consideramos só as universidades, apenas algo em torno de 20 nomes são pertencentes a instituições privadas, ou seja, 3,3%, e, dentre essas últimas, raras são as que têm mais de um nome a lhes representar. Não é preciso ser um ás da Matemática para perceber, portanto, que, do lado inverso, ou seja, entre as universidades públicas, a quantidade de representantes é assombrosamente maior, sejam essas instituições federais ou estaduais.
Há de se destacar também que a maioria das instituições não universitárias (como centros de pesquisa, laboratórios, fundações e hospitais) que têm representantes entre os cem mil cientistas mais influentes do mundo é basicamente pública (como a Fiocruz). No caso da iniciativa privada, apenas alguns poucos hospitais aparecem.
Levantamentos internacionais independentes como esses são importantes porque nos mostram que, a despeito dos constantes cortes orçamentários e ataques contra as universidades públicas, mais uma vez, está provado que são elas os verdadeiros centros de excelência no ensino superior. Juiz de Fora, ela mesma, inclusive, deveria se orgulhar do fato de a UFJF também figurar nessa lista. Enfim, como se vê, as universidades públicas, em termos de qualidade e reconhecimento internacional, seguem dando um banho de lavada nas particulares.
Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.