Entre as diversas razões pelas quais os judeus se irritaram com Jesus, a ponto de levá-lo à pena capital, destacaremos a dedicação do Cristo ao trabalho.
É sabido que a tradição judaica dos tempos remotos ao hoje exige que o dia de sábado deva ser guardado ao descanso, sendo terminantemente proibida, sem exceção, qualquer atividade pública. Jesus, contrariando essas antigas regras, jamais deixou de se fazer presente aos préstimos alheios, não importando o dia e a hora que fossem. Os homens do Sinédrio se irritavam com o Cristo e o indagavam por que não guardava o sábado conforme a lei? – “Ele, porém, lhes respondeu: o meu Pai trabalha até agora, eu também trabalho”. Irados, os poderosos daqueles tempos se armaram em conspirações para eliminar Jesus. Mas suas lições e seus exemplos estão aqui a nos orientar até hoje. E os poderosos desapareceram na poeira da história.
Sabemos também que passamos mais horas contínuas trabalhando que ao lado dos nossos familiares. Também é fato que uma larga maioria é insatisfeita com sua condição pessoal, diante da tarefa a ser diariamente cumprida. Verdade é que, em todos os espectros da sociedade, nos mais diversos recantos profissionais, encontramos pessoas queixando-se insatisfeitas das tarefas que lhes cabem.
Um número incomensurável de criaturas pede socorro ao mais alto, suplicando melhor condição profissional. Raríssimos são os que agradecem a oportunidade do trabalho conseguido, e mais raro ainda são aqueles que executam suas lidas com desvelo, dedicação e amor. Amor que, ao nosso nível, entendemos como atenção dedicada, buscando um melhor desempenho que resultará em crescimento na carreira. Ao contrário, é bem mais comum ouvirem-se queixas de insatisfação com a tarefa recebida.
Somos cultivadores do antigo vício de pensar que merecemos mais e melhor, sem que nada tenhamos feito para isso. Quando alguém se dedica absorvido na execução de seus deveres como se mais nada houvesse em redor, é interrompido por um terceiro que lhe indaga se há necessidade de tanto esforço ou se valerá a pena. Questionadores desse nível trazem do passado faltoso e distante a preguiça inconsciente e o desejo infantil de continuar nas faixas de ações que tantas quedas provocaram em reencarnações passadas, cultivando o descanso imerecido.
Desde os tempos mais longínquos, civilizações e impérios constituíram-se fundamentados na exploração do trabalho alheio e na sórdida escravidão. Religiões estruturaram-se em cirandas de doações e benesses de seus fiéis, a fim de permitir aos sacerdotes uma vida de contemplação. Jesus, não. O Cristo veio arrancar-nos da permanência no erro, demonstrando a bênção que é o trabalho, atividade que é a movimentação incessante da vida em progresso. E, nos ensinando a honrar nosso esforço na lida diária, referiu-se que Deus nosso Pai não cessa de servir em sua eterna obra da Criação com amor e sabedoria.
Então, quando nos sentirmos cansados em desalento, lembremos que Jesus continua trabalhando por nós, atendendo as rogativas mais íntimas feitas em nossas preces. E, se essa imagem do Cristo ainda o é distante e inimaginável, recorramos à sua trabalhadora mais próxima de nós, dona Isabel Salomão de Campos, ao nos ensinar que “o trabalho digno é prece eterna”.
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