No dia 14 de julho de 2022, a Câmara Municipal de Juiz de Fora corrigiu uma injustiça e devolveu o título de vereador para Lindolfo Hill. Filhos e netos do pedreiro, alçado ao Legislativo municipal em 1947, receberam simbolicamente da atual legislatura o documento que restitui a honra de Lindolfo Hill.
Desde a fundação do partido comunista em 1922, a classe trabalhadora viveu os períodos mais obscuros da história política brasileira com punições e perseguições. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e depois de um período curto de legalidade, os direitos e as liberdades democráticas conquistadas foram novamente usurpadas em 1947 no governo do general presidente Dutra. Como consequência, todo mundo que pensava um pouco diferente foi cassado. Com Lindolfo não foi diferente.
Em 1950, a onda ditatorial chegou à nossa cidade; no apagar das luzes do ano legislativo, a Câmara Municipal se curvou ao apelo militar e cassou injustamente o mandato conseguido com o voto legítimo popular. Na mesma sessão legislativa de 15 de dezembro de 1950, o presidente da CMJF, Bisaglia, convocou o suplente para assumir o lugar. Mas nem tudo está perdido. Em 2022, o reconhecimento de Lindolfo Hill como um dos juiz-foranos mais engajados na luta contra as desigualdades sociais em nossa cidade chegou para corrigir essa injustiça à democracia 72 anos depois.
Lindolfo Hill, ainda jovem, já era membro do comitê central do PCB e atuou com grandes nomes nacionais, como Luiz Carlos Prestes, Mariguella e outros. Hill viveu entre 1917 e 1977 e se tornou uma das vítimas de regimes autoritários, da ditadura militar, da falta de democracia e de liberdade de expressão. É importante lembrarmos que a militância implicava o abandono de familiares e amigos e uma vida na clandestinidade. Mas ninguém entra na clandestinidade por livre e espontânea vontade. A história de Lindolfo Hill se confunde com a do PC local e nacional e revela a face brutal da repressão do Estado Brasileiro para garantir os interesses da elite.
O PCB deixou a ilegalidade com o fim do Estado Novo (1937-1945), quando provisoriamente recuperou o registro do partido junto ao Tribunal Superior Eleitoral. Lindolfo Hill ajudou a estruturar o Movimento Unificador dos Trabalhadores e outras atividades do PCB. Hill foi eleito pelo PTB em 1947 com a segunda maior votação, e, no mesmo ano, a CMJF reabriu suas portas, depois de dez anos fechadas pelo autoritarismo do Estado Novo. Na tribuna da Câmara, Lindolfo Hill ousou desafiar o status quo da sociedade juiz-forana e a contradizer os interesses da elite. Defendeu seus ideais e lutou por melhores condições na sociedade. Nos debates históricos da CMJF, oferecia resistência aos discursos elitistas do vereador Abel Rafael, um conhecido integralista do movimento fascista brasileiro.
O livro “Lindolfo Hill – um outro olhar para a esquerda”, publicado em 2021 por seu sobrinho-neto, conta toda essa trajetória e é uma biografia que resgata a história desse ilustre juiz-forano ainda pouco conhecido na cidade. O lançamento presencial será às 18h no saguão da CMJF. Às 20h, durante a sessão especial da Câmara Municipal de Juiz de Fora, os descendentes de Lindolfo Hill recebem das mãos do presidente da CMJF o título simbólico de vereador. Uma homenagem merecida para uma família que teve decepada a cabeça familiar e teve que sobreviver na clandestinidade, com nomes falsos e em cidades onde eram desconhecidos. A Justiça tarda, mas não falha.