A Organização das Nações Unidas (ONU), em sua “Agenda 2030”, prioriza a inclusão social, com sustentabilidade e solidariedade entre os povos, por consenso entre seus quase 200 Estados-membros. É a esperança em um mundo menos injusto, menos desigual, mais inclusivo no pós-pandemia. Isso, claro, se a base do desenvolvimento neste “novo normal” colocar efetivamente em pauta, como prioridade absoluta, as pessoas, o bem-estar social – caminho para a paz – e a proteção do nosso dilacerado meio ambiente. Há quase dois séculos, o cooperativismo preconiza exatamente tais premissas em seus valores e princípios.
Só no Brasil, somos sete mil cooperativas, de todos os ramos, reunindo cerca de 14 milhões de cooperados (sócios, portanto) e empregando 400 mil pessoas. No mundo, são três milhões de cooperativas integrando 1,2 bilhão de associados. É mais do que oportuno contextualizar o significado e fortalecer esta filosofia cooperativista, feita de apoio mútuo e solidariedade, agregando valor a produtos e serviços por ela desenvolvidos.
Desde 1844 (primeira cooperativa em Rochdale, Inglaterra), o cooperativismo se fundamenta em valores e princípios nunca tão urgentes e imprescindíveis quanto agora, no dito “novo normal”: ajuda mútua, ética, democracia, equidade, solidariedade, entre outros. Já naquele tempo, seus fundadores sabiam que desenvolver de maneira sustentável presumia responsabilidade social e preservação do ambiente, condições interligadas.
Sabemos que, hoje, 48% de toda a produção agrícola do Brasil passa por uma cooperativa agropecuária. Na saúde, 38% dos brasileiros com assistência médica suplementar são atendidos por cooperativas – é o Sistema Unimed, presente em todo o país.
Também somos gigantes nas exportações: US$ 5,137 bilhões é o volume de recursos gerados por 240 cooperativas brasileiras. E mais: se as 300 maiores cooperativas do mundo fossem um país, este representaria a nona economia mundial!
Além das cooperativas de saúde do Sistema Unimed e daquelas do ramo agrícola, outro ótimo exemplo são as cooperativas de crédito. As oportunidades nesse segmento foram ampliadas recentemente, quando grandes bancos transnacionais reduziram sua atuação no Brasil, e instituições nacionais também se retraíram, em razão da insegurança trazida pelo aumento do desemprego e da inadimplência.
Hoje, mais do que nunca, o cooperativismo é uma excelente opção para a geração de renda e combate ao desemprego. As cooperativas vêm se modernizando, qualificando pessoas, investindo muito em gestão e tecnologia, desenvolvendo novas linhas de produtos e serviços. Logo se percebe que esses negócios seguem na via oposta à retração econômica (que impõe cortes de investimentos e demissões), muito agravada agora, com a pandemia de Covid-19.
Para 2020, o governo previu, ainda em maio, uma redução de 4,7% no PIB, caso as medidas de distanciamento social terminassem naquele mês. O Banco Mundial, queda de 8%, enquanto o FMI estima recuo de 9,1% para este exercício.
É certo que, no Brasil, a recuperação econômica exigirá muito mais esforços do que em outras nações. Isso porque temos várias tragédias: a sanitária, a econômico-financeira, dela decorrente, e, como se não bastasse, uma crise politico-institucional, visto que os três poderes da República não se entendem.
E mais: a corrupção endêmica não dá trégua; está nítida no inescrupuloso superfaturamento de materiais médico-hospitalares e medicamentos, estampado com frequência nas manchetes dos jornais. Nos últimos dias, houve até apreensão de testes para Covid-19 adulterados ou sem validade – pasmem! Parece mesmo que tudo é mais difícil por aqui.
Viktor Frankl, ex-prisioneiro de campo de concentração, autor de “Em busca de sentido”, faz um relato da sua experiência naquele ambiente de dor, sofrimento e privações. Ele conta como as pessoas que sobreviveram conseguiram reagir a tudo aquilo: “Quem tem um porquê enfrenta qualquer como”. Enfrentar é tudo o que precisamos, Estado e sociedade, neste processo de reconstrução. E que haja sabedoria, liderança, determinação e sobriedade.
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